O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vacarezza (PT-SP), rebateu neste domingo o pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal apresentado pelo promotor José Carlos Blat, do Ministério Público de São Paulo, contra o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, acusado de envolvimento no suposto esquema de desvio de verba da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo).
Segundo reportagem da revista "Veja" desta semana, o promotor analisou mais de 8.000 páginas de documentos do processo que envolve o desvio de recursos e concluiu que a direção da Bancoop movimentou R$ 31 milhões em cheques para a própria cooperativa. Esse tipo de movimentação é uma forma de não revelar o destino do dinheiro.
Ex-diretor financeiro e ex-presidente da cooperativa, Vaccari Neto será o responsável pelas finanças da campanha da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência da República.
"Essas denúncias são falsas. Primeiro porque o Vaccari assumiu a Bancoop depois dos problemas da Bancoop. E o promotor Blat sabe que aquela movimentação [R$ 31 millhões] é interbancária. Ou seja, de diversas contas da Bancoop para uma conta da Bancoop", disse Vacarezza, durante a inauguração da nova sede da Força Sindical, em São Paulo.
O petista também disse achar estranho o fato de o PSDB ter entrado com pedido de CPI na Assembleia Legislativa de São Paulo antes da denúncia ser apresentada pelo promotor. Entretanto, indagado se estava insinuando que o Ministério Público de São Paulo trabalha a serviço do PSDB, Vacarezza limitou-se a dizer: "Não falei do Ministério Público. Falei do promotor Blat. É só você ver a história pregressa dele."
Vacarezza também afirmou que o PT não vai tomar nenhuma medida judicial contra o promotor. Mas disse que se estivesse no lugar de Vaccari Neto entraria com uma representação pessoal contra Blat. "Isso não é uma história do partido. É um problema do Vaccari. [...] Se eu fosse ele, faria uma representação na corregedoria [do Conselho Nacional do Ministério Publico]", afirmou.
Procurado pela Folha Online, o promotor José Carlos Blat disse que lamenta as declarações do líder do governo e que seu trabalho é puramente "técnico". "Estou fazendo meu trabalho. Um trabalho técnico. E não tenho nenhuma simpatia por partido algum. Não sou tucano nem petista, nem nada", afirmou.
O promotor afirmou que já está acostumado com esse tipo de acusação, mas que não vai deixar isso interferir no andamento das investigações. "É sempre a mesma coisa. O que acontece é que quando você investiga um caso envolvendo um partido A, eles te acusam de trabalhar para o partido B. Na verdade, eu só trabalho para o Ministério Público", disse Blat. Segundo ele, ainda não há data para apresentação da denúncia.
A Promotoria já investiga o esquema de desvio de recursos da Bancoop desde junho de 2007. O esquema teria beneficiado campanhas eleitorais do PT e diretores da cooperativa. A fraude teria prejudicado cerca de 3.000 mil mutuários da entidade e causado um rombo financeiro de aproximadamente R$ 100 milhões.
Segundo a denúncia, dirigentes da cooperativa teriam criado empresas fantasmas que prestavam serviços superfaturados e faziam doações não contabilizadas ao PT. Para Blat, há indícios de caixa dois, uma vez que os recursos repassados ao partido não constam dos registrados da Justiça Eleitoral.
Em nota divulgada neste sábado em seu site, a Bancoop também negou a existência de um esquema de desvio de verba e chamou a reportagem da revista "Veja" de fantasiosa. "A matéria é extremamente fantasiosa quanto aos fatos, como demonstra a informação de que teriam sido emitidos, para saque em dinheiro, cheques nominais à própria Bancoop em valor total superior a R$ 31 milhões", diz a nota da cooperativa.
"Na verdade, há uma intensa movimentação bancária entre contas da própria Bancoop, já que cada empreendimento da cooperativa, por força inclusive do Acordo Judicial celebrado com o Ministério Publico, tem conta bancária específica, sendo necessária a transferência de recursos utilizados para o custeio das respectivas obras", argumenta.