O laboratório Labogen, controlado pelo doleiro Alberto Youssef, lavou US$ 113,38 milhões, entre janeiro de 2009 e dezembro de 2013. O poderio do esquema foi descoberto com a quebra de sigilo bancário e fiscal da empresa no âmbito da Lava Jato ? operação deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março, que derrubou organização criminosa liderada por Youssef e seu aliado principal, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás.
O sofisticado esquema do ?laboratório lavanderia? desprezou o surrado modelo dólar cabo ? transferência virtual de valores para paraísos fiscais ? e deu lugar ao uso de contratos de câmbio para importações fictícias de medicamentos. O dinheiro foi parar na China.
A Lava Jato descobriu que o laboratório firmou 1.945 contratos de câmbio em nome de duas coligadas, a Labogen Química Fina e Biotecnologia e a Indústria e Comércio de Medicamentos Labogen.
A primeira realizou 1.294 operações, que somaram US$ 75,31 milhões. A outra efetuou 651 ?transações de papel?, ao valor global de US$ 38,07 milhões.
A lavanderia pode ter ocultado dinheiro sujo em volume ainda maior, alcançando a cifra máxima de US$ 184,44 milhões em quatro anos. A Procuradoria da República descobriu que as contas de outras três empresas foram utilizadas para movimentar recursos que o laboratório do doleiro amealhou por meio de contratos superfaturados em órgãos públicos.
Essas três empresas ? Hmar Consultoria em Informática, GFD Investimentos e Piroquímica Comercial (fabricante de produtos farmacêuticos) ? fecharam naquele período 991 contratos de câmbio para remessa de mais US$ 71,06 milhões para a China.
A PF e a Procuradoria da República querem identificar os beneficiários reais do dinheiro ilícito aportado em contas de doleiros de Hong Kong e Taiwan, praças escolhidas pelo laboratório para avançar o ciclo da lavagem.
O laboratório é o foco central da Lava Jato porque liga o doleiro ao ex-diretor da Petrobrás ? ambos presos em março ? e ao deputado paranaense André Vargas, que anunciou anteontem sua desfiliação do PT após pressão dos próprios colegas de partido.
O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PT, é citado na Lava Jato. Usando o laboratório como carro-chefe, o doleiro tentou obter contrato milionário no Ministério da Saúde, amparado em um programa de parceria da pasta.
No grampo da PF, Vargas ? que só pode ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal por ser deputado ? disse que Padilha indicou o executivo Marcus Moura para atuar no Labogen. O ex-ministro nega relações com o doleiro e rechaça a versão de que recomendou um profissional para o laboratório. O ministério diz que não celebrou contrato com o Labogen.
Para a PF, ?pode-se estar diante de mais uma ferramenta para sangria dos cofres públicos, uma vez que os relatórios de inteligência financeira indicam claramente a atuação da empresa Labogen para objetivos bem distintos de seu objeto social?.
A Procuradoria imputa a Youssef e a Costa lavagem de dinheiro ilícito arrecadado a partir de corrupção e peculato. O ex-diretor da estatal teria recebido R$ 7,95 milhões em propinas no âmbito das obras supostamente superfaturadas da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Controle. A ?lavanderia? entrou em operação quando Youssef assumiu o controle do laboratório ? oficialmente sob direção do administrador Leonardo Meirelles, ?operador e testa de ferro? do doleiro, segundo a PF. A produção da ?lavanderia? impressionou os investigadores. Os contratos de câmbio se sucederam em ritmo frenético, quase sempre em valores relativamente baixos, em média de até US$ 100 mil cada um, justamente para evitar cair no radar dos órgãos fiscalizadores.
?A organização criminosa agia estruturalmente ordenada, caracterizada pela divisão formal de tarefas e com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem indevida derivada dos crimes de peculato, corrupção ativa e corrupção passiva e lavagem de dinheiro em detrimento da Petrobrás, entre 2009 até 2014?, sustenta a Procuradoria.