Durante interrogatório nesta quinta-feira (24), no Supremo Tribunal Federal (STF), o juiz auxiliar Rafael Henrique, que atua no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, confrontou o ex-assessor internacional de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, réu no processo que investiga o chamado núcleo 2 da trama golpista. O grupo reúne servidores de segundo escalão acusados de atuar na organização de ações antidemocráticas, como a tentativa de assassinato do próprio ministro e a atuação irregular da PRF nas eleições de 2022.
Ao prestar depoimento, Martins alegou ser "a única pessoa no estado do Paraná" que precisa comparecer regularmente à Justiça. A afirmação foi prontamente corrigida pelo juiz Rafael Henrique:
"Há diversos réus aqui no Paraná. Ela [uma ré] comparece toda semana", afirmou o magistrado, rebatendo a fala do ex-assessor.
Minuta “fantasma” e embate com o juiz
Martins negou ter conhecimento da minuta golpista encontrada pela Polícia Federal e classificou o documento como uma “minuta fantasma”:
"Posso afirmar com total segurança que não só não tive contato com essa minuta antes como não tive durante este processo. Por isso, inclusive, a minha defesa tem insistido em chamar essa minuta de 'minuta fantasma'", declarou.
Durante a audiência, houve ainda um embate verbal entre o réu e o juiz auxiliar. Martins criticou o conteúdo da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), alegando que ela “dá aula sobre democracia” e questionando se isso seria papel do órgão acusador.
“Doutor, isso não compete a mim”, respondeu o juiz Rafael Henrique.
“Mas a minha palavra compete ao senhor. O que eu posso e o que eu não posso falar”, rebateu o réu.
“Não, não, eu não estou dizendo o que o senhor pode e o que o senhor não pode. E o senhor vai concluir ou não? Porque o interrogado não sou eu, o interrogado é o senhor”, respondeu o magistrado, elevando o tom.
Martins, por sua vez, afirmou estar apenas respondendo aos argumentos levantados pela acusação:
“Em respeito à paridade de armas, se a acusação pode fazer um discurso dessa natureza, a defesa também pode fazer. Ou não temos mais paridade de armas?”, questionou.
O núcleo 2 da investigação
O interrogatório faz parte da oitiva de 13 réus ligados aos núcleos 2 e 4 da trama golpista. O núcleo 2 envolve servidores de segundo escalão do governo Bolsonaro acusados de "gerenciar" ações golpistas, enquanto o núcleo 4 reúne apoiadores mais próximos e operadores de logística.
Entre as acusações do núcleo 2 estão a articulação de uma tentativa de homicídio contra o ministro Alexandre de Moraes e o envolvimento na operação da Polícia Rodoviária Federal que, durante o segundo turno das eleições de 2022, teria priorizado ações de fiscalização em estados do Nordeste — região onde Lula obteve forte votação.