Quando o senador Aloízio Mercadante (PT-SP) postou uma mensagem no Twitter anunciando que renunciaria à liderança do partido no Senado "em caráter irrevogável?, ele cometeu um erro básico de comportamento virtual, segundo usuários consultados pelo G1: não pensou se poderia mudar de ideia depois.
Agora, jovens usuários do microblog dão dicas para outros políticos não incorrerem no que consideram uma "gafe" do senador.
Publicar coisas nas redes sociais e depois se arrepender é comum. O estudante de ciência da computação Phillipe Werneck, de 21 anos, já escreveu em um blog criticando um CD. Depois de ver o show da banda, no entanto, mudou de ideia. ?Tive que voltar e publicar ?tá, eu não gostava da banda até ver o show, mas eles me contagiaram??, conta.
No Twitter, a professora Nathália Villa, também de 21 anos, já quis voltar no tempo e jamais ter postado uma mensagem enviada a um desafeto. ?Postei, mas me arrependi e retirei do ar. Porém foi tarde e a pessoa acabou lendo e entendendo a mensagem. O desafeto cresceu ainda mais?, diz Nathália.
A maioria desses arrependimentos, no entanto, não causa nem uma fração da repercussão da mudança de ideia de Mercadante.
?Hoje com a internet, e principalmente, com ferramentas como o Twitter, as informações se propagam numa velocidade incrível. Talvez ele não tenha imaginado a dimensão de ter comunicado algo por ali?, acredita o estudante de economia Flávio Antunes, de 24 anos.
Nathália acredita na boa intenção do senador, mas acha que ele foi ?precipitado?. ?Acho que o senador Mercadante tinha realmente o desejo de abandonar a liderança por causa dos conflitos de ideias que estão ocorrendo no partido e no Senado?, diz ela. ?Porém o achei precipitado ao utilizar uma rede social com as dimensões do Twitter para adiantar um assunto tão importante como este?, analisa.
Para Phillipe, o senador deveria ter mantido sua decisão inicial. ?Acho que ele deveria ter honrado sua posição até o fim?, afirma.
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Para a publicitária paulista Priscila Bernardi, que estuda a eficácia do Twitter como canal de marketing, o serviço pode ser uma ferramenta poderosa.
?Tem pessoas que estão ficando públicas graças ao Twitter. Elas conseguem divulgar seu trabalho, que antes era desconhecido?, afirma. ?Para empresas tem ser muito bem estudado, se não vira contra a coorporação. Para uma pessoa física, é mais eficaz -- se souber usar?, avalia.
Para ela, que também usa o Twitter, o senador foi ?muito ingênuo.? ?Com certeza, faltou um aconselhamento. Acredito que nenhum político pode usar essa ferramenta sozinho, tem que ter alguém que o ajude nas informações. Ele quis mostrar que é do povo, que interage com as pessoas. Até aí rendeu mídia, todo mundo publicou que ele postou no Twitter o que iria fazer. Mas ele não esperava mudar de ideia. Isso é muito feio, tira toda a credibilidade?, diz a publicitária. ?Acho que foi o primeiro caso que vi de uma exposição tão errada?, acredita.
Dicas
Mercadante não é o único político a aderir à ferramenta de microblog. O presidente americano Barack Obama foi o pioneiro, quando ainda era candidato. Entre os políticos brasileiros mais seguidos estão o governador de São Paulo José Serra, a vereadora da cidade de São Paulo Soninha Francine e o senador Cristovam Buarque.
Segundo os usuários da rede, a gafe virtual do senador paulista é fácil de ser evitada. ?Eu, que sempre fiz o uso dessas ferramentas, digo que eles têm que ter cuidado com as informações publicadas e com a empolgação, para não soltar informações sigilosas ou incertas?, aconselha Nathália. ?O uso de redes sociais é uma grande estratégia de propaganda, porém quando usada de forma errada ou em demasia, o tiro acaba saindo pela culatra?, diz ela.
Flávio Antunes diz que os políticos precisam estar preparados para receberem mensagens negativas. ?Para pessoas públicas, se não quiser ouvir críticas é bom não aderir a esse espaço. Sempre haverá alguém de opinião contrária ou que não compactua com o que é escrito e passará a criticar. No mundo virtual, as críticas são muito mais frequentes do que os elogios?, afirma.
Para Phillipe Werneck, os políticos podem precisar de uma ajuda para não pisarem na bola. ?Acho que pessoas públicas devem ter uma assessoria antes de ingressar em mídias sociais?, afirma. No entanto, essa ajuda deve vir apenas em forma de orientação ? os posts devem ser feitos pela própria pessoa.
?É vital que elas atualizem seus próprios perfis. Só assim terão valor para o público. Principalmente no Twitter, que exige velocidade de informação e interação.?, aconselha o estudante.
Mas os políticos, segundo ele, precisam, sempre, pensar antes de escrever. ?As mídias sociais são uma ferramenta poderosa de interação com o público. Mas é um público inteligente e questionador?, diz Phillipe.
?Não entrem nesse mundo e acreditem que vai ser igual fazer propaganda na televisão. Aqui iremos questionar seu discurso. Pensem bem antes de comunicar decisões, pois a web vai cobrar que sejam cumpridas.?, afirma o jovem.