Reportagem publicada neste domingo (22) pelo jornal ?O Estado de S.Paulo? informa que o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, abriu uma filial de sua empresa, a JD Consultoria, no Panamá, país da América Central, no mesmo endereço da empresa que administra o hotel Saint Peter, em Brasília. O Saint Peter é o hotel que ofereceu emprego a Dirceu com salário de R$ 20 mil em novembro.
Segundo ?O Estado de S.Paulo?, a empresa do ex-ministro foi registrada em 2008 no escritório da Morgan y Morgan, uma firma que ajuda na fundação e administração de empresas internacionais com sede no Panamá. A reportagem informa que, três meses após a abertura da consultoria de Dirceu, teria sido aberto no mesmo local a Truston International Inc, que administra o Saint Peter.
A assessoria de imprensa de Dirceu, que está preso por ter sido condenado no julgamento do mensalão, negou que a empresa tenha sido instalada no Panamá. De acordo com a assessoria, foi feito um pedido em cartório brasileiro de abertura da filial da JD no país da América Central, mas a solicitação foi anulada antes da conclusão do processo. A assessoria de Dirceu não confirmou se no pedido registrado em cartório constava o endereço da Mogan y Morgan. No Brasil, a JD funciona em escritório em São Paulo, com serviço de consultoria empresarial.
A assessoria de imprensa do hotel Saint Peter reafirmou que a Truston International Inc não tem vínculo de posse com o hotel e possui relação apenas com a operação do lugar. Em nota encaminhada à imprensa no início de dezembro, a assessoria do hotel informou que "a constituição da Truston foi feita de acordo com as leis do país sede da empresa e registrada no Brasil, de acordo com as normas do Banco Central".
Segundo ?O Estado de S.Paulo?, ao abrir a filial no Panamá, Dirceu teria feito um aporte à empresa em dinheiro vivo e a JD teria tido aumento em seu capital de R$ 5 mil para R$ 100 mil. Mas no ano seguinte, ele decidiu ?tornar se efeito? a abertura da filial. De acordo com a reportagem, com base em fontes da Polícia Federal e da Receita Federal, o registro em cartório só teria efeito no Brasil, e a sua ausência não impediria a empresa de atuar no Panamá.
Responsável por hotel no Panamá
No início de dezembro, o Jornal Nacional exibiu reportagem mostrando que o presidente da administradora do Saint Paul é um cidadão panamenho que atua como auxiliar de escritório na Morgan y Morgan e mora na periferia da Cidade do Panamá.
A legislação daquele país permite que ações de companhias sejam transferidas de um empresário para outro sem que seja necessário informar as autoridades. Isso faz com que seja muito difícil saber quem é o verdadeiro dono de empresas como a Truston International Inc.
No último dia 5, o advogado de Dirceu divulgou que o ex-ministro havia desistido do trabalho no hotel Saint Peter. O advogado alegou que a desistência ocorreu devido ao "clima de linchamento midiático instalado contra José Dirceu e contra a empresa que lhe ofereceu trabalho".
Condenado no processo do mensalão, o ex-ministro José Dirceu cumpre pena de 7 anos e 11 meses pelo crime de corrupção ativa em Brasília em regime semiaberto, quando é possível deixar o presídio para trabalhar de dia. O ex-chefe da Casa Civil também foi condenado a mais 2 anos e 11 meses por formação de quadrilha, mas não começou a cumprir a punição porque ingressou com recurso que só será julgado no ano que vem.
Após desistir do emprego no Saint Peter, o ex-ministro José Dirceu apresentou à Justiça um novo pedido para trabalhar fora da cadeia. Desta vez o salário é de R$ 2,1 mil para cuidar da biblioteca jurídica do advogado José Gerardo Grossi, amigo do ex-ministro há mais de 20 anos. A proposta apresentada a Dirceu inclui a "eventual pesquisa de jurisprudência" e "colaboração na parte administrativa". Se a Justiça aceitar o pedido, Dirceu vai trabalhar de 8h às 18h.