O Ministério Público Federal no Piauí vai investigar o rompimento da barragem. Os procuradores também querem saber por que os moradores que tinham sido retirados da área, há 15 dias, foram autorizados a voltar na semana passada.
O agricultor Romão José Machado perdeu a casa, mas tem motivos de sobra para estar aliviado: quando percebeu que tinha algo errado com a barragem, dias atrás, levou a família para a casa de amigos, longe da área atingida. "Estava esperando arrebentar a qualquer hora tudinho. Aí ninguém voltou".
Era num canto da barragem, agora destruído, que ficava o sangradouro, um ponto de escoamento do açude. Quando ele começou a transbordar, a água que passava para este lado provocou uma erosão no solo. Foi o primeiro sinal de risco para os moradores que chegaram a ser retirados, mas foram orientados a voltar para cá.
Na ata da reunião realizada semana passada por representantes do governo, do município de Cocal e dos bombeiros, o engenheiro Luiz Hernane de Carvalho, consultor do governo do Piauí, descartou a possibilidade de rompimento da barragem e confirmou que não havia risco para a população.
"Não existe nenhum perigo da barragem arrombar. Absolutamente não tem nenhum perigo da barragem arrombar. Vamos fazer uma reunião técnica para saber quais são as providências para minimizar os efeitos que estão ocorrendo na barragem".
Ainda segundo a ata da reunião, mesmo depois do parecer do engenheiro, um capitão do Corpo de Bombeiros sugeriu a permanência das equipes no local. "No momento da reunião, o capitão, que é engenheiro, deu a opinião dele como engenheiro"
Mas a presidente da empresa de gestão de recursos do Piauí, Lucele de Souza, discordou. "A orientação que a gente tinha era seguir a posição da equipe técnica de engenharia responsável por avaliar a barragem".
Na semana que vem, uma comissão do Conselho Regional de Engenharia vai analisar a barragem. "Qualquer opinião atualmente seria apenas uma mera opinião que certamente não contribuiria muito. O certo é que especialistas vão comparecer aqui e farão o trabalho que tem de ser feito", declarou José Borges de Souza, presidente do Crea (PI).
O Ministério Público já começou a investigar o caso e pediu ajuda aos peritos da Polícia Federal. ?É indispensável para que essas indagações sejam respondidas para identificar quais os fatores que concorreram para o rompimento da barragem?, declarou o procurador da República Kelston Lages.
O governador do Piauí, Wellington Dias, do PT, anunciou que vai criar uma comissão para investigar as causas da tragédia.