Após ter sido intimada sobre a abertura de processo de impeachment no Senado, a presidente afastada DilmaRousseff fez um pronunciamento de 14 minutos nesta quinta-feira (12) no Palácio do Planalto no qual classificou a decisão como "a maior das brutalidades que pode ser cometida contra um ser humano: puní-lo por um crime que não cometeu".
Ela voltou a classificar o processo de impeachment de “golpe” e afirmou que não praticou nenhum crime. Disse que o que “está em jogo” é o “respeito às urnas” e acrescentou que tentam “tomar à força” o seu mandato, que, segundo ela, é alvo de “sabotagem”.
“O que está em jogo no processo de impeachment não é apenas meu mandato. Está em jogo o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e a Constituição. O que está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos, os ganhos das pessoas mais pobres e da classe média, a proteção às crianças, os jovens chegando às universidades e escolas técnicas, a valorização do salário mínimo, médicos atendendo a população, a casa própria com o Minha Casa Minha Vida”, afirmou Dilma.
Ao chegar ao Salão Leste, Dilma foi recebida com aplausos e aos gritos de "Dilma, guerreira da Pátria brasileira". Após a fala, ela foi ao encontro de manifestantes que se concentravam em frente ao Palácio do Planalto. Dilma afirmou em seu discurso que o seu governo foi sabotado para que, assim, conseguissem “forjar o meio ambiente propício ao golpe”.
“Meu governo tem sido alvo de intensa e incessante sabotagem. O objetivo evidente vem sendo me impedir de governar e, assim, forjar o meio ambiente propício ao golpe. Quando uma presidente eleita é cassada sob acusação de um crime que não cometeu. O nome que se dá a isso no mundo democrático não é impeachment, é golpe”, afirmou.
A petista disse ser inocente e alvo de um processo "injusto". Ela voltou a dizer que não cometeu crime de responsabilidade e, por isso, não haveria razão para o processo de impeachment.
"Não tenho contas no exterior, nunca recebi propinas, jamais compactuei com a corrupção. Esse processo é frágil, juridicamente inconsistente, um processo injusto, desencadeado contra uma pessoa honesta e inocente. É a maior das brutalidades que pode ser cometida contra qualquer ser humano puni-lo por um crime que não cometeu", ressaltou.
Dilma afirmou ser vítima de uma injustiça e de uma "farsa jurídica". Sem citar diretamente o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável por deflagar o processo de impeachment, afirmou que o processo foi desencadeado por nunca ter aceitado "chantagem de qualquer natureza".
O governo sempre acusou Cunha de abrir o processo em represália por não ter conseguido apoio do PT no Conselho de Ética, onde responde a um processo de cassação por quebra de decoro. "Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes", disse Dilma.
A petista rebateu as acusações a que responde no processo de impeachment argumentando que fez "tudo o que a lei me autorizava a fazer, os atos que pratiquei foram atos legais, corretos, atos necessários, atos de governo. Atos idênticos foram executados pelos presidentes que me antecederam. Não era crime na época deles e também não é crime agora", afirmou.
Com a voz embargada e sob aplausos, Dilma disse ter orgulho de ser a primeira presidente mulher e lembrou da tortura que sofreu quando esteve presa na época do regime militar.
"O destino sempre me reservou muitos desafios, muitos e grandes desafios. Alguns pareceram a mim intransponíveis, mas eu consegui vencê-los. Já sofri a dor invisível da tortura, a dor aflitiva da doença e, agora sofro mais uma vez a dor igualmente inominável da injustiça", afirmou.
E seguiu dizendo que, apesar da dor, não irá esmorecer. "Olho para trás e vejo o que fizemos. Olho para frente e vejo tudo o que ainda precisamos e podemos fazer. O mais importante é que posso olhar para mim mesma e ver a face de alguém que, mesmo marcada pelo tempo, tem forças para defender suas ideias e direitos. Lutei a minha vida inteira pela democracia. Aprendi a confiar na capacidade de luta do nosso povo. Já vivi muitas derrotas e vivi grandes vitórias. Confesso que nunca imaginei que seria necessário lutar de novo contra um golpe no meu país", declarou.
Segundo ela, a democracia do Brasil, "feita de lutas, feita de sacrifícios, feita de mortes", não merecia isso.
Ao final do seu pronunciamento, fez um apelo para que a população se mantenha mobilizada.
"Aos brasileiros que se opõem ao golpe, independente de posições partidárias, faço um chamado: mantenham-se mobilizados, unidos e em paz. A luta pela democracia não tem data para terminar. É luta permanente que exige de nós dedicação constante. A luta pela democracia nao tem data para terminar. A luta contra o golpe é longa, que pode ser vencida e vamos vencer", disse.
E concluiu afirmando: "Vamos mostrar ao mundo que há milhões de defensores da democracia em nosso país". "A democracia é o lado certo da história. Jamais vamos desistir, jamais vou desistir de lutar", afirmou.