RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez um discurso com forte tom eleitoral na tarde desta quarta (7) na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, buscando atacar o ex-presidente Lula (PT), refutar suspeitas de corrupção em seu governo e repetir ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Diante de milhares de apoiadores e sem a presença da primeira-dama, Michelle, Bolsonaro gritou: "Não sou muito bem educado, falo palavrões, mas não sou ladrão". Também afirmou que a esquerda deveria ser "extirpada da vida pública".
"Se você perder a liberdade, você perdeu tudo na vida. Compare o Brasil com os países da América do Sul, compare com a Venezuela, compare com o que está acontecendo na Argentina e compare com a Nicarágua", afirmou ele.
"De comum esses países têm nomes que são amigos entre si, todos os ex-chefes de Estado dessas nações são amigos do quadrilheiro de nove dedos que disputa a eleição no Brasil. Não é voltar apenas à cena do crime, [mas] esse tipo de gente tem que ser extirpado da vida pública", continuou.
Ele distorceu os fatos ao dizer que seu governo está há três anos e meio sem corrupção, deixando de lado alguns escândalos como suspeitas na compra de vacinas, em obras da Codevasf (estatal federal) e no MEC, que levaram à queda do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro.
Momentos antes do discurso, estava presente no ato também o ex-assessor Fabrício Queiroz, hoje candidato a deputado estadual pelo PTB, acusado de ser o operador financeiro do esquema da "rachadinha" no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio.
Na fala de mais de dez minutos, Bolsonaro acusou adversários de jogar fora das quatro linhas da Constituição, ironizando o recente movimento das cartas pela democracia. "Nosso governo respeita a Carta que é a Constituição. O outro lado que assina cartinha não respeita", declarou.
Gerou vaias ao citar o STF: "Trouxemos para vocês o conhecimento de como funciona a Presidência da República. Hoje vocês sabem também como funciona a Câmara dos Deputados, o Senado Federal e o Supremo Tribunal Federal", disse, fazendo uma pausa.
O presidente usou o discurso ainda para afirmar que o Brasil "tem uma política externa inigualável" e é referência para o mundo todo, além de fazer propaganda de números da economia. Reconheceu, porém, o impacto da inflação neste ano.
"O Brasil, hoje, seus números da economia invejam o mundo todo. Teremos inflação esse ano sim, mas muito menor do que a Europa e até mesmo os Estados Unidos", discursou.
Ele voltou a adotar um tom religioso, assim como fizera em Brasília mais cedo, dizendo-se cristão, contra o aborto e o que chama de ideologia de gênero: "Somos um governo que sabe que o nosso Estado é laico, mas o seu presidente é cristão".
Repetiu que o seu governo colocou fim às invasões do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e, apesar do histórico de constantes ataques a jornalistas, disse defender imprensa livre.
Mais uma vez usando o mote da liberdade, o presidente disse que esteve nesta quarta com os empresários envolvidos em mensagens de cunho golpista, alvos de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal em agosto, que segundo ele "tiveram sua privacidade violada".
Luciano Hang, da Havan, foi um dos que acompanhou Bolsonaro nas agendas desta quarta. O presidente falou em um carro de som ao lado do governador Cláudio Castro (PL), do pastor Silas Malafaia e do general da reserva Walter Braga Netto, candidato à vice-presidência e ex-ministro da Casa Civil.
O presidente chegou à capital fluminense por volta das 14h. Primeiro foi ao Aterro do Flamengo (entre o centro e a zona sul da cidade), sendo recebido em um carro aberto aos gritos de "mito". Depois, seguiu em motociata até Copacabana.
Por ordem de Bolsonaro, as Forças Armadas mudaram o evento às pressas para o bairro, que normalmente é usado para atos a favor do presidente. Tradicionalmente, os desfiles de 7 de Setembro ocorrem na avenida Presidente Vargas, no centro da capital fluminense.
O feriado de 7 de Setembro deste ano marca os 200 anos da Independência do Brasil, mas foi usado por Bolsonaro como ato de campanha.
Pela manhã, diante de milhares de apoiadores na Esplanada dos Ministérios, o presidente discursou em tom de ameaça contra outros Poderes, com citação crítica ao STF e elogios a Michelle, que sorria ao seu lado.
Com tom machista, entoou gritos de "imbrochável" e ensaiou fazer uma comparação com outras primeiras-damas, mas não citou diretamente a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, mulher de Lula, que também tem buscado votos femininos para o marido.
"A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro, vamos todos votar, vamos convencer aquelas pessoas que pensam diferente de nós, vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil. Podemos dar várias comparações, até entre as primeiras damas. Ao meu lado, uma mulher de Deus e ativa na minha vida. Ao meu lado, não, muitas vezes ela está é na minha frente", discursou ele.
"Tenho falado com homens que estão solteiros: procure uma mulher, uma princesa, se casem com ela, para serem mais felizes ainda", acrescentou.
A fala em tom eleitoral e com pedido de votos ocorre no momento em que enfrenta dificuldade para impulsionar sua popularidade entre eleitoras. Bolsonaro está em segundo lugar nas pesquisas, atrás do ex-presidente Lula (PT) nas simulações de primeiro e de segundo turno.