Dez representantes de um grupo formado por cerca de 300 índios e ribeirinhos da região do Rio Xingu, do Pará e Mato Grosso, além de estudantes, ambientalistas e artistas, entregaram à Presidência da República, através do Secretário Executivo, Rogério Sottili, e do Secretário de Articulação Social, Paulo Maltus, nesta terça-feira (8), em Brasília, um documento com cerca de 500 mil assinaturas contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
Os manifestantes se reuniram nesta manhã em frente ao espelho d?água, no Congresso Nacional, para exigir também que o governo federal estude uma carta assinada por aproximadamente 30 especialistas de diversas universidades brasileiras (como UFRJ, UFPA e USP) com argumentos científicos que desaconselham a obra.
?O barramento do Xingu seria a morte do ecossistema e da agricultura familiar de todo povo tradicional de lá. Assim, além de perdermos nossa cultura, estaríamos levando nossos filhos para serem bandidos e assassinos, já que é isso que a periferia de Altamira representa?, protestou a ribeirinha e representante do movimento ?Xingu vivo para sempre?, Ana Alice Plens.
As pretensões do governo são de investir cerca de 19 bilhões de reais no empreendimento, que terá dois reservartórios de água com tamanho de 516 quilômetros quadrados. Se construída, Belo Monte terá a primeira unidade geradora entrando em operação comercial a partir de fevereiro de 2015 e terá uma capacidade instalada de 11,2 mil megawatts, o que a tornaria a terceira maior hidrelétrica do mundo neste quesito, ficando atrás apenas de Itaipu (na fronteira entre Brasil e Paraguai) e Três Gargantas (China).
A questão voltou a ser intensamente debatida após o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) conceder, no fim do mês de janeiro deste ano, licença que autoriza a instalação dos canteiros de obra, acampamentos de operários e até a implementação de estradas que forem necessárias para dar início as obras.
Além disso, o órgão também liberou que o consórcio Norte Energia, responsável pela construção, extinga 238,1 hectares de vegetação, dos quais cerca de 27% estão em área de preservação ambiental.
Líderes indígenas da etnia Kayapó, que participaram da manisfetação, estiveram nesta segunda-feira (7) em um seminário organizado pela Universidade de Brasília (UnB), que propunha o debate sobre os impactos da hidrelétrica na vida dos moradores da região e aproveitaram a oportunidade para pressionar o governo a cancelar a realização da obra.
"Nós fomos enganados. Sou contra a usina e vou defender nossas florestas e nosso povo até o fim", disse o líder Kayapó Raoni Metyktire.
Também líder dos Kayapós, Yabuti Metyktire, enfatizou que não pretende "ceder" e abrir mão do que chamou de "nossa terra". "Eles defendem aquele PAC, mas nem que encham esse auditório de dinheiro vou abrir mão de nossas terras", completou, se referindo ao auditório do Memorial Darcy Ribeiro, na UnB, onde o evento aconteceu.
O seminário ouviu opiniões de indígenas, representantes de movimentos sociais e especialistas sobre os danos que a usina poderia causar à região e aos seus habitantes caso seja construída e debateu eventuais alternativas para o projeto, como a utilização de energia eólica (produzida através de hélices que giram quando em contato com o vento) e a solar.
A assessoria da presidência da república foi procurada pelo G1 para comentar a declaração dos lideres indígenas, mas ainda não deu retorno.