'Inação implica em perdas de vidas inocentes', diz Mauro Vieira em discurso no G20

Chanceler do Brasil voltou a defender a urgência de uma reforma da governança global, criticando Não é do nosso interesse viver em um mundo fraturado

'Inação implica em perdas de vidas inocentes', diz Mauro Vieira em discurso no G20 | Reprodução
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Nesta quarta-feira, durante a abertura da reunião dos Ministros de Relações Exteriores do G20, que inclui as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e, a partir deste ano, a União Africana, o chanceler brasileiro Mauro Vieira reiterou a necessidade urgente de uma reforma na governança global. Em seu pronunciamento, o ministro enfatizou que "as instituições multilaterais não estão adequadamente preparadas para enfrentar os desafios contemporâneos" e estão em um "estado de inação", o que "resulta diretamente em perdas de vidas inocentes".

— As instituições multilaterais não estão devidamente equipadas para lidar com os desafios atuais, como demonstrado pela inaceitável paralisia do Conselho de Segurança em relação aos conflitos em curso — criticou Vieira, referindo-se às guerras na Ucrânia e em Gaza. — Esse estado de inação implica diretamente em perdas de vidas inocentes.

O chanceler reiterou a crescente importância do G20 no cenário global, apesar de sua origem predominantemente econômica. Ele destacou o papel crucial do grupo como um espaço de diálogo, permitindo que "países com perspectivas divergentes possam sentar-se à mesa e conduzir conversas produtivas, sem necessariamente ficarem presos a posições inflexíveis que têm obstaculizado progressos em outros fóruns, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas."

Na qualidade de presidente rotativo do fórum, o Brasil expressou profunda preocupação com a situação internacional no que diz respeito à paz e segurança. O chanceler ressaltou a rejeição do país a um mundo em que as diferenças são resolvidas mediante o uso da força militar, alinhando-se à considerável parte do mundo que opta pela paz e recusa envolver-se em conflitos motivados por nações estrangeiras.

"O Brasil rejeita a busca de hegemonias antigas ou novas. Não é do nosso interesse viver em um mundo fraturado", disse Mauro Vieira.

Vieira destacou a diferença de abordagem entre o Norte e o Sul Global em temas de paz e segurança, dizendo que “enquanto o Norte está unido em torno de uma aliança militar”, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos EUA, “o Sul é coberto por diversas camadas e zonas de paz e cooperação”, entre elas a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (Zopacas), o Organismo para a Proscrição das Armas Nucleares na América Latina e no Caribe (Opanal), a África desnuclearizada sob resolução da ONU e a própria União Africana, que passou a integrar o G20 este ano.

A situação absolutamente extraordinária em que todo o Hemisfério Sul do planeta optou por permanecer desnuclearizado é pouco destacada sob a narrativa predominante — argumentou o chanceler. — Os casos bem-sucedidos de cooperação pacífica da América Latina, África, Sudeste Asiático e Oceania fazem com que as vozes dessas regiões devam ser ouvidas nos foros relevantes com especial cuidado e atenção.

Segundo Vieira, sem paz e cooperação, será “extremamente difícil” alcançar os recursos necessários para enfrentar questões globais urgentes como o combate à pobreza e à desigualdade e a proteção do meio ambiente. Em seu discurso, afirmou que “não é minimamente razoável” que o mundo gaste mais de US$ 2 trilhões todos os anos com despesas militares, enquanto os desembolsos para a Assistência Oficial ao Desenvolvimento permanecem estagnados em torno de US$ 60 bilhões, e os países não conseguem alcançar os compromissos de US$ 100 bilhões anuais para combater as mudanças climáticas, previstos no Acordo de Paris.

Mais cedo, o ministro encontrou-se, à margem da reunião de chanceleres do G20 no Brasil, com o ministro da Europa e das Relações Exteriores da França, Stéphane Séjourné. Eles discutiram temas da agenda bilateral, com destaque para a visita ao Brasil do presidente Emmanuel Macron, prevista para o período de 26 a 28 de março.

Vieira também esteve com o ministro Sameh Shoukry, do Egito, com quem tratou das negociações em curso para um cessar-fogo em Gaza e para a libertação dos reféns em poder do grupo terrorista Hamas.

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