Gilberto Carvalho, interlocutor da presidente da República com os movimentos de esquerda, disse na sexta-feira que, durante os protestos de junho do ano passado, integrantes do governo federal ficaram "perplexos" e "quase com um sentimento de ingratidão" pelo fato de as manifestações terem se voltado contra um governo que considera ter avançado em conquistas sociais.
"Quando acontecem as manifestações de junho, da nossa parte houve um susto. Nós ficamos perplexos. Quando falo nós, é o governo e também todos os nossos movimentos tradicionais. (Houve) uma certa dor, uma incompreensão e quase um sentimento de ingratidão. (Foi como) dizer: fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós", declarou o ministro da Secretaria Geral durante o Fórum Social Temático, em Porto Alegre, evento que reúne movimentos sociais, parcela cativa do eleitorado petista nas últimas décadas. As informações foram publicadas no jornal Folha de S. Paulo.
No momento da fala do ministro, uma pessoa que acompanhava o discurso da plateia gritou: "Ah, sai daí". À tarde, em outra participação no fórum, Carvalho disse ter sido "mal interpretado" quando falou do sentimento de ingratidão. Afirmou que se tratou de uma reação inicial, e equivocada. "Citei hoje de manhã um fato que foi mal interpretado. Depois até um veículo de imprensa falou que tinha gente no governo com certo sentimento de ingratidão. Um sentimento equivocado, evidentemente. Tem muita dificuldade de compreender, vamos ser sinceros. A gente passou muito tempo até tentar entender", afirmou.
A onda de manifestações começou em capitais contra o preço do transporte coletivo, mas se alastrou para outras áreas do serviço público e atingiu a popularidade da presidente Dilma Rousseff e de governadores e prefeitos do País.