O ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato fugiu para a Itália sem usar passaporte, segundo amigos. Ele teria ido para a Argentina, onde usou um documento chamado carta de autorização para seguir rumo à Europa.
A fuga de Pizzolato começou de carro no Rio de Janeiro, de onde seguiu para a fronteira com o Paraguai. Desceu do carro e atravessou a pé, sem que fosse necessário mostrar um documento, sempre segundo amigos.
De lá, pegou outro carro que o levou até a Argentina --possivelmente usou a mesma estratégia de atravessar a pé para evitar a fiscalização.
Em novembro do ano passado, o ex-diretor do banco, que tem dupla nacionalidade, teve seus passaportes brasileiro e italiano apreendidos por decisão do STF.
A carta de autorização é um documento provisório, emitido por consulados para atender aqueles que perdem seus passaportes e precisam voltar com urgência para seu país de origem.
Para consegui-la, é preciso ir a uma delegacia e registrar a perda do documento, o que Pizzolato pode ter feito no Paraguai ou na Argentina.
De acordo com os amigos, a carta provisória foi usada para que Pizzolato voasse para a França. De lá, seguiu para a Itália por terra. A estratégia dificulta que a Polícia Federal rastreie seu trajeto.
O Consulado da Itália no Paraguai afirma que não emitiu um novo passaporte para o ex-diretor do Banco do Brasil. Até a conclusão desta edição, o Consulado da Itália na Argentina ainda não tinha se manifestado sobre o caso.
Pizzolato foi condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a 12 anos e 7 meses pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato por ter autorizado o repasse de R$ 73,8 milhões do banco para o esquema do mensalão.
Após a fuga, ele foi incluído na lista de procurados pela Interpol em 190 países.
INVESTIGAÇÃO
Apesar de ainda não ter sido acionada para investigar a fuga de Pizzolato, a Polícia Federal já sabe que duas pessoas o ajudaram. Uma o levou até a fronteira com o Paraguai e outra o ajudou a chegar à Argentina.
Pizzolato teria fugido em setembro. Pelo tratado de extradição entre Brasil e Itália, nenhum dos países é obrigado a enviar quem tem cidadania local, mas o governo que negar o pedido tem de avaliar a abertura de processo contra a pessoa, desde que o outro país remeta os dados necessários.
O caso do ex-diretor não é, por enquanto, prioridade para o governo italiano. O foco é a possível queda da ministra da Justiça, Annamaria Cancellieri, envolvida num escândalo de tráfico de influência (teria usado sua posição para ajudar a filha presa de um amigo magnata). A ministra vai hoje ao Parlamento para se defender.