Depois que a Câmara dos Deputados derrubou uma medida provisória que tratava do aumento do IOF, o governo federal começou a fazer mudanças em cargos de segundo escalão ocupados por indicados de partidos do chamado Centrão.
As trocas envolvem aliados do PP, PSD, União Brasil e MDB, siglas que, segundo membros do governo, não seguiram o acordo feito para aprovar a MP. Apesar disso, algumas indicações mais próximas do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), como a presidência da Caixa Econômica Federal, permanecem mantidas.
Nos últimos dias, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, teria apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma proposta para revisar nomeações. O presidente autorizou a reavaliação de cargos. A ideia é reorganizar espaços dentro do governo conforme o posicionamento dos partidos no Congresso.
Cargos trocados
Entre os órgãos que já tiveram mudanças estão:
Caixa Econômica Federal
Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba)
Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)
DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes)
Superintendências do Ministério da Agricultura
Pelo União Brasil, saíram do governo Lena Carolina Brandão, superintendente do Iphan no Maranhão e irmã do deputado Pedro Lucas (MA), e Harley Xavier Nascimento, que atuava na Codevasf da Bahia, indicado por Arthur Maia. Ambos os deputados minimizaram as exonerações e disseram que já havia a expectativa de mudanças, já que o partido se afastou da base do governo.
O ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), comentou o momento com uma metáfora: “Não dá pra ser casado e ter vida de solteiro.” Ele permanece no cargo, mesmo com pressões internas da legenda.
Outros partidos afetados
Indicações do PP também foram substituídas. Entre elas, a de José Trabulo Junior, assessor da presidência da Caixa, ligado ao senador Ciro Nogueira (PI), e de Paulo Rodrigo de Lemos Lopes, que era vice-presidente de Sustentabilidade do banco, ligado ao PL.
No MDB, foi exonerado Igo Gomes Brasil, superintendente do DNIT em Roraima, indicado pela deputada Helena Lima (RR). A parlamentar votou contra a MP, mesmo com o MDB orientando a favor.
Já no PSD, quatro superintendentes do Ministério da Agricultura perderam os cargos: representantes dos estados de Minas Gerais, Maranhão, Paraná e Pará. O governo apontou que a sigla contribuiu para a rejeição da medida, embora a bancada tenha se dividido. Foram 20 votos com o governo e 18 contra.
Parlamentares do PSD reclamaram que não foram informados sobre as demissões. Para eles, a retaliação é injusta, já que o partido tem ajudado o governo em votações importantes. Também lembram que o deputado Átila Lins (PSD-AM), que integrou a comissão que analisou a MP, votou a favor da proposta e ajudou na vitória apertada por 13 votos a 12.
Avaliação interna no governo
No Planalto, a votação da MP serviu como um sinal de quais partidos e parlamentares continuam aliados e quais se distanciaram. Auxiliares do presidente avaliam que essa reorganização também tem impacto pensando nas eleições de 2026.
A medida provisória foi retirada de pauta em uma sessão na última quarta-feira (8). Como ela tinha prazo para ser votada até a meia-noite daquele dia, a retirada levou ao seu fim automático. Foram 251 votos contra o governo.
A orientação, por enquanto, é que deputados que se ausentaram da votação não sejam punidos. Um exemplo é Arthur Lira, que não participou da sessão e continua com espaço no governo, incluindo a presidência da Caixa.
Apesar das mudanças, o governo mantém o diálogo aberto para que parlamentares que votaram contra a MP possam retomar o alinhamento com o Planalto.
Reação no Congresso
Alguns deputados viram as exonerações como um gesto duro e disseram que seria melhor manter o diálogo. Um líder do Centrão avaliou que "bater em aliados" pode ser arriscado diante de um Congresso com posições divididas.
Outro parlamentar disse que retirar cargos por causa de uma votação específica pode acabar criando tensão desnecessária. Ele alertou que, se a Câmara quiser, pode começar a pautar projetos com grande impacto nos cofres públicos — como aumentos de salários ou mudanças em aposentadorias.
Na semana passada, por exemplo, foi aprovada uma PEC que muda as regras previdenciárias para agentes de saúde, o que deve gerar um gasto bilionário ao governo.