O tom parece apocalíptico, mas é usado por técnicos do governo para definir o risco de o Congresso Nacional aprovar uma leva de propostas com grande impacto fiscal. Nas palavras de integrantes da equipe econômica, um aumento brusco dos gastos públicos faria o Brasil "se transformar em uma Grécia" em pouquíssimo tempo.
Ao menos cinco projetos são apontados como espécie de bomba-relógio para o Orçamento da União do ano que vem. Além do choque nas contas, teme-se o efeito cascata de reajustes salariais aos servidores federais.
Duas crises distintas motivam essa preocupação: lá fora, a alta dívida no mundo desenvolvido e seu impacto no Brasil. Aqui, o desejo de setores de uma base parlamentar insatisfeita em dar "o troco" no governo.
A combinação desses dois fatores fez com que a presidente Dilma Rousseff pedisse, na semana passada, apoio do Legislativo para enfrentar os efeitos de uma desaceleração mundial.
A frase não se referia somente à necessidade de voto favorável a eventuais medidas de combate à crise. Implícito estava um apelo para que as bancadas aliadas não impusessem ao Executivo elevações críticas de despesas públicas.
A comparação com a Grécia, embora metafórica, já é usada em gabinetes do Palácio do Planalto como sinal de alerta. O país europeu está no topo de uma das mais sensíveis situações fiscais do Primeiro Mundo. Suas dívidas estão em patamares considerados proibitivos.
A dívida do Brasil não chega hoje a ser elevada pelos padrões globais, mas é cara: os títulos brasileiros têm prazos curtos e juros altos em razão do elevado gasto público e histórico de moratória, confisco e renegociações em décadas passadas.
Depois de dois anos de descumprimento das metas fiscais, o governo quer evitar novo descontrole. Planeja, se necessário, vetar textos aprovados no Congresso ou brigar no STF (Supremo Tribunal Federal) para revertê-los.
O reajuste dos servidores do Judiciário e do Ministério Público da União lidera o ranking das preocupações de Dilma. O aumento representaria impacto de quase R$ 8 bilhões em 2012.
Nesse caso, preocupa não só a conta salgada, mas a corrida salarial que seria desencadeada no funcionalismo, ainda m