O governo brasileiro identificou as ossadas de três homens que atuaram na Inconfidência Mineira ao lado de Tiradentes, mais de 200 anos depois de suas mortes. A identificação foi anunciada nesta sexta-feira (15) pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), vinculado ao Ministério da Cultura.
Os três serão sepultados em 21 de abril, Dia de Tiradentes, no Museu da Inconfidência, na cidade mineira de Ouro Preto, em cerimônia que contará com a presença da presidente Dilma Rousseff.
De acordo com Rui Mourão, diretor do Museu da Inconfidência, os três homens identificados são Domingos Vidal Barbosa (1761-1793), João Dias da Mota (1744-1793) e José de Resende Costa (1728-1798), sendo que este último foi pai de outro inconfidente com o mesmo nome.
"José de Resende Costa foi um homem de grande importância na época, um fazendeiro que tinha influência na sociedade. Domingos Barbosa estudou na França e foi ele quem trouxe promessa de ajuda de Thomas Jefferson (ex-presidente dos Estados Unidos) ao movimento. E João Dias Mota foi amigo de Tiradentes, que chegou a ficar hospedado na casa de Mota. Ele ajudou Tiradentes a chegar ao Rio de Janeiro", contou Mourão, ao afirmar que todos tiveram participação importante para o movimento.
Já estão sepultados no Panteão do Museu da Inconfidência em Ouro Preto 13 homens, de acordo com o Ministério da Cultura. Esses três últimos serão sepultados em um túmulo que ficou vazio justamente em homenagem àqueles que não foram localizados.
A Inconfidência Mineira foi um movimento contra o domínio da Coroa portuguesa. Várias pessoas foram presas e Tiradentes foi condenado ao enforcamento em 21 de abril de 1792. É considerado um dos principais mártires da independência do Brasil.
De acordo com Rui Mourão, os três identificados foram exilados para Portugal após a execução de Tiradentes. De lá, foram enviados à África. José de Resende Costa e Domingos Vidal foram para Cabo Verde e João Dias Mota para Guiné Portuguesa.
Domingos Vidal e João Dias teriam morrido em 1793, conforme documentos históricos. Resende Costa teria falecido em 1798. Os três foram enterrados, segundo esses documentos, perto de uma igreja na Vila de Cacheu, na Guiné Portuguesa.
Os restos mortais foram exumados em 1932, após uma determinação do presidente Getúlio Vargas para identificação dos inconfidentes. Em 1992, chegaram ao museu de Ouro Preto. O trabalho de identificação dos corpos começou um ano depois e durou mais de 10 anos.
O professor da Unicamp Eduardo Darude, doutor em Odontologia, foi quem comandou o trabalho de identificação. Ele afirmou que houve tentativa de identificação por meio do DNA, o que acabou não dando certo. Os três foram identificados pela desintometria óssea, exame que mede a densidade dos ossos. Como havia diferença de idade entre os três, as ossadas eram diferentes, de acordo com Darude.
"O primeiro passo foi tentar extrair o DNA. O DNA está contido na parte orgânica do osso. Mas esses ossos ficaram em contato com a terra e isso degradou completamente a matéria orgânica", disse o professor.
Um trineto de Resende Costa foi localizado e chegou a enviar amostras de sangue, que acabaram não sendo utilizadas.
Darude disse que foram realizados muitos exames de tomografia para que se chegasse à identificação, mas que ele não recebeu auxílio do governo para a pesquisa. "Além de não receber colaboração, até gastei dinheiro do bolso. Para os exames, os deslocamentos. O trabalho não foi fácil, mas contei com auxílio de pesquisadores da Unicamp."