Fundador do PT no Paraná, Pizzolato estava sem condições de se manter

Ele morava no local com a mulher e um casal de amigos, que ajudava nas despesas.

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No início do primeiro mandato do ex-presidente Lula, o nome do catarinense Henrique Pizzolato, então diretor de marketing e comunicação do Banco do Brasil, surgiu como um dos responsáveis pela compra de R$ 70 mil em ingressos, pagos pela instituição, para um show da dupla Zezé di Camargo e Luciano.

A renda da apresentação foi convertida para a construção da nova sede do PT.

À Folha, na época, Pizzolato desdenhou do rebuliço que o episódio provocou: "Já comemos torresmo com muito mais cabelo".

Ao longo de mais de 30 anos no PT, na CUT (Central Única dos Trabalhadores) e no setor bancário, onde fez carreira, foram muitos os toucinhos -com pouco ou muito cabelo- enfrentados. O mais cabeludo deles é o atual, como fugitivo internacional e, segundo amigos, sem dinheiro até para manter o apartamento onde vivia no Rio.

Um dos fundadores do PT no Paraná, Henrique Pizzolato, 61, foi funcionário do BB, presidente do sindicato dos bancários de Toledo (PR), cidade onde viveu, e presidente da CUT no Estado.

A ascensão no setor bancário se deu em 1992, quando se tornou representante (eleito) no conselho de administração do banco. Anos depois, virou diretor da Previ, o bilionário fundo de pensão dos funcionários do BB.

Paralelamente, ajudava na consolidação do PT. Pelo partido, foi candidato a vereador, prefeito e governador -em 1990, tendo Lula como cabo eleitoral, recebeu apenas 4,4% dos votos na disputa pelo governo paranaense.

Pouco mais de dez anos depois, ele e Lula voltariam a se encontrar numa campanha.

Em 2002, quando o líder máximo do PT foi eleito presidente, Pizzolato atuou no setor de arrecadação da campanha, tratando diretamente com o então tesoureiro do partido, Delúbio Soares, outro petista condenado no processo do mensalão.

Um ano depois do polêmico show de Zezé di Camargo e Luciano para arrecadar fundos para a sede do PT, Henrique Pizzolato apareceu no escândalo do mensalão.

Como diretor de marketing e comunicação do Banco do Brasil, ele liberou antecipadamente o repasse de R$ 73,8 milhões, por meio da Visanet, para a DNA Propaganda, empresa de publicidade de Marcos Valério usada para repassar dinheiro a políticos.

Sua condenação foi baseada na autorização do repasse milionário para o esquema. Ele, contudo, afirma que os recursos do Banco do Brasil foram aplicados em campanhas publicitárias.

CONFUSO

Durante as CPIs que investigaram o escândalo no Congresso, Pizzolato disse que o repasse foi autorizado pelo então ministro Luiz Gushiken (Comunicação), morto em setembro deste ano.

Gushiken, que foi absolvido no processo, negou a versão e disse que o ex-diretor do BB era "confuso por natureza". Posteriormente, Pizzolato afirmou ter havido um mal entendido.

Isolado e sem contar com o apoio do PT desde a eclosão do mensalão, Henrique Pizzolato, pelo relato frequente que fazia a interlocutores, enfrentava dificuldades.

Em entrevista à revista "Retrato do Brasil", ano passado, Pizzolato e a mulher, Andrea, arquiteta de formação como ele, foram descritos como "gente simples". Não tinham carro e, segundo o relato dele, precisaram vender a metade dos oito imóveis da família para pagar advogado.

Amigo de Pizzolato, Alexandre Teixeira contou à Folha que "já há alguns anos ele não tem condições financeiras de manter o apartamento sozinho".

Ele morava no local com a mulher e um casal de amigos, que ajudava nas despesas.

Duas vizinhas do prédio em que ele morava no Rio, que pediram discrição, afirmaram que há cerca de três meses já não viam Pizzolato nas cercanias do edifício.

Na Itália, o ex-diretor do Banco do Brasil não poderá deixar o país, sob o risco de ser preso e extraditado para cumprir a pena no Brasil.

Há nove anos, ao falar à Folha sobre torresmos, a carreira e sua atuação no BB, ele disse: "Se tiver um céu, vou ficar muito pouco no limbo pelo que já passei, pelo que já fiz e por todas as orações que fiz para são Francisco".

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