O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou nesta quinta-feira (16) que o fim da CPMF em dezembro de 2007 impediu que a Saúde apresentasse resultados melhores ao fim do governo Lula. O ministro apresentou em Brasília um balanço do período de 2003 a 2010 na área da saúde.
"Acho que a perda da CPMF em dezembro de 2007 foi muito ruim para a saúde pública porque impediu que hoje nós estivéssemos aqui apresentando números muito melhores. Nós íamos ter R$ 24 bilhões ao longo desses quatro ano, e não tivemos", declarou o ministro.
Um dos números apresentados que chamou atenção foi o de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). O governo planejou ter até o fim deste ano 500 unidades em funcionamento, mas até agora apenas 92 estão concluídas, segundo o ministro.
"Elas estão todas em construção ou sendo equipadas. Como as UPAs são construídas pelos municípios e nós tivemos eleições este ano, o que interrompeu o repasse de recursos, nós tivemos atraso de cronograma. Mas com certeza, no primeiro trimestre, a maioria dessas UPAs já vai estar em funcionamento", disse Temporão.
Acho que a perda da CPMF em dezembro de 2007 foi muito ruim para a saúde pública porque impediu que hoje nós estivéssemos aqui apresentando números muito melhores. Nós íamos ter R$ 24 bilhões ao longo desses quatro ano, e não tivemos"
José Gomes Temporão
Segundo ele o balanço representa o fim de um ciclo. "Tem o ar de fechamento de um ciclo, né. Com certeza. Estou detalhando um pouco do muito que fizemos no campo da saúde", disse. Quanto à possibilidade de permanecer à frente da pasta, ele afirmou que esta é a pergunta que mais tem ouvido nos últimos dias.
"Não estou preocupado com isso porque eu sou um homem da saúde pública, sempre trabalhei com isso e continuarei trabalhando onde estiver. Posso colocar no meu currículo que fui ministro da saúde do presidente Lula e que dei a minha contribuição ao sistema de saúde brasileiro", afirmou.
Balanço
Em seu discurso sobre pontos de destaque do balanço, o ministro ressaltou melhorias no Sistema Único de Saúde (SUS), que segundo ele foram possíveis por meio de maior articulação entre o governo federal, estados e municípios. Temporão afirmou que os novos desafios na área envolvem o envelhecimento populacional, as mudanças no perfil epidemiológico da população e o avanço das tecnologias em saúde.
Foram ressaltados programas como o Saúde da Família, que chegou a um investimento anual de R$ 5,5 bilhões em 2009, o Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu), que no primeiro semestre de 2010 já possuía mais de 2 mil ambulâncias atuando em 1.238 municípios, além de outros, como o Farmácia Popular (de acesso a medicamentos) e o Brasil Sorridente (de saúde bucal).
Também foram citadas campanhas como as de divulgação da Lei Seca, as antitabagistas e em relação a outras drogas, e a parceria com a indústria alimentícia buscando redução de gorduras trans, sal e açúcar nos alimentos produzidos no Brasil.
"É difícil destacar um só programa, mas eu destacaria algumas coisas: a ampliação do programa Saúde da Família, a inclusão da saúde bucal na atenção básica, o aumento do acesso aos medicamentos através do Farmácia Popular, a estruturação do Samu, que não existia e hoje atende a mais de 110 milhões de pessoas. E eu destacaria também essa inovação no campo da atenção à saúde da mulher e da criança, que é a estratégia Brasileirinhos Saudáveis", disse o ministro.
Novos Desafios
Segundo o ministro, os desafios que se impõem no momento incluem a necessidade de inovar no campo da gestão, para que se possa usar melhor os recursos disponíveis. "Para dar uma saúde de qualidade para todos, como determina a Constituição, os recursos hoje disponíveis são claramente insuficientes", disse.
Hábitos alimentares
Temporão também falou sobre a pesquisa do IBGE que apontou tendências nas compras de alimentos no país. "De um lado, mudanças na estrutura familiar estão levando as pessoas a comerem fora de casa e comprarem comida semipronta, porque é muito prático. Só que essa alimentação tem um conteúdo de sódio, gordura e açúcar maior. Isso junto com a inativade física, consumo de refrigerantes e de bebida alcoólica muda totalmente o padrão das doenças no Brasil", disse.
Segundo ele, o Brasil está caminhando para uma epidemia de diabetes tipo 2 e de obesidade, causadas por um fenômeno que é "mundial".
Transição
Não descartando a possibilidade de permanecer no ministério, Temporão afirmou que deixará uma "gestão bem arrumada" para o próximo ano.
"Vamos ter um livro de encargos que vai ser entregue ao novo ministro, onde ele vai ter ali toda a estrutura do ministério, política de recursos humanos, um orçamento detalhado. Estou preparando outro documento que é, além do balanço que apresentamos aqui, um documento mais conjuntural das coisas do dia-a-dia que ele tem que estudar. Então não vai haver impacto nenhum [na transição]", declarou.
Quanto aos nomes que estão sendo cotados nos bastidores para assumir a pasta, ele disse apenas: "Acho todos nomes maravilhosos, sensacionais todos eles."