Ex-governador do DF diz que crise não é só de Brasília

Cristovam Buarque diz que DF vive “envergonhamento”, mas não quer voltar ao governo

Cristovam Buarque. | r7
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O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-governador do Distrito Federal, disse em entrevista ao R7 que a crise que levou ao afastamento e prisão de José Roberto Arruda (ex-DEM, sem partido) não é só de Brasília, mas que "chegamos ao fundo do poço". Ele descarta a ideia de voltar ao comando do DF e defende uma "cara nova" nas eleições deste ano. Cristovam também criticou a intenção do também ex-governador Joaquim Roriz (PSL) de se candidatar.

Atolado em um escândalo de corrupção desde o fim do ano passado, o Distrito Federal já teve três governadores diferentes neste ano. Após a prisão de Arruda, em fevereiro, o vice-governador Paulo Octávio ficou 12 dias no cargo e renunciou. O presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima (PR), assumiu em seu lugar e luta contra uma possível intervenção federal no DF, que está sob análise do STF (Supremo Tribunal Federal).

Leia os principais trechos da entrevista com Buarque:

R7 - Senador, como ex-governador, como o senhor vê a crise no DF?

Cristovam Buarque: Eu vejo em primeiro lugar com uma tristeza muito grande como brasiliense que sou. Também com um certo constrangimento e até vergonha diante do Brasil inteiro. Terceiro, com indignação de que tenha sido possível chegar até esse ponto.

R7 - Mas o que aconteceu para chegar até esse ponto?

Cristovam: O que aconteceu foi que coincidiu o fato de que, no Brasil, as campanhas eleitorais são muito caras e existe uma conivência muito grande, uma promiscuidade, entre o setor público e privado, inclusive para financiamento de campanhas. E creio que a equipe no governo misturou os interesses públicos como se fossem interesses privados.

R7 - O senhor acha que Brasília chegou ao fundo do poço com essa crise?

Cristovam: Isso não é só Brasília. Brasília foi um caso extremo, mas houve governadores cassados em outros Estados, já houve políticos presos em diversos Estados. Maluf já foi preso uma vez, Pitta já foi preso. Então não é uma característica só de Brasília, mas nós chegamos, sem dúvida alguma, ao fundo do poço. Uma situação de ?envergonhamento? geral para todos nós de Brasília, principalmente políticos, na opinião pública nacional.

R7 - O senhor é favorável à intervenção federal?

Cristovam: Eu não tenho defendido a intervenção. Eu tenho dito que a intervenção federal, se houver, não é um golpe. Não é o fim da democracia. Está prevista na Constituição. Agora o que eu defendo é que, seja quem for que vier, tem que vir com a cara, mãos e ações de um interventor. Senão, nós não recuperaremos nossa credibilidade. A minha proposta é que a Câmara Legislativa escolha essa pessoa, ou seja, ocorrendo a renúncia do governador Arruda, tendo a renúncia do vice-governador, a lei manda convocar eleições indiretas em 30 dias. Eu creio que a Câmara Legislativa tem que eleger alguém que passe para a opinião publica a ideia que vai fazer o trabalho que o interventor faria, que não é mais um político de conchavo. Não é mais uma pessoa que para se eleger tenha que fazer acordos.

R7 - Então o Arruda deve renunciar?

Cristovam: Eu acho que isso é uma questão de foro íntimo dele, mas se ele não renunciar ele será cassado pela Câmara. Ele podia colaborar com a solução da crise e já renunciar. Eu não acho que ele tenha mais esperanças de a Câmara Legislativa inocentá-lo. A renúncia ajudaria na solução dos problemas.

R7 - Mas uma intervenção federal não vai jogar no lixo a autonomia conquistada por Brasília?

Cristovam: A intervenção vai jogar no lixo os políticos. É a desmoralização dos políticos, mas não da autonomia. Quem está acabando com a autonomia não é a intervenção, quem está acabando com a autonomia é a desmoralização da nossa política.

R7 - Senador, apesar da investigação sobre o esquema de corrupção no DF, muita gente tem elogiado a administração de Arruda. O senhor concorda que foi um bom governo?

Cristovam: Não existe governo bom ou ruim totalmente. O governo do Arruda foi muito ruim na saúde, por exemplo, está sendo razoavelmente bom em obras e foi médio na educação, apesar de uma coisa muito positiva, que foi o esforço dele de aumentar o número de horas que as crianças devem permanecer na escola. Então teve coisas positivas, sim. Dizer que no governo Arruda foi tudo ruim é o que chama-se de maniqueísmo. Que as pessoas são perfeitas ou detestáveis. Tinha coisas boas no governo Arruda. Mas nada seria suficiente para abafar as denúncias. Eu creio que o comportamento ético está acima da competência.

R7 - Existe um movimento pela volta da moralidade no DF, o senhor pensa em contribuir se lançando candidato a governador neste ano?

Cristovam: Eu estou contribuindo e muito tentando encontrar um bom candidato para o governo. Eu estou contribuindo ao dizer que é preciso renovar, então não deveria ser eu nem Roriz [o ex-governador Joaquim Roriz, que é pré-candidato do PSC ao governo do DF] a sermos candidatos. Eu estou contribuindo em meus artigos, onde proponho as linhas do próximo governo. Eu estou contribuindo representando bem Brasília, no cenário nacional. E eu espero contribuir muito com o futuro de Brasília ajudando a fazer uma revolução no Brasil pela educação.

R7 - Mas por que não como candidato?

Cristovam: Porque eu acho que nós deveríamos renovar. Eu já fui governador, eu acho que devia entrar gente que não foi ainda. Porque é mais fácil me substituir no governo do Distrito Federal, do que na defesa da educação, no cenário nacional.

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