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Ex-embaixador dos EUA diz que tarifas de Trump foram um presente para o Brasil

Para Thomas Shannon a ameaça tarifária busca interferir em processo contra Bolsonaro, mas acaba favorecendo Lula ao fortalecer a soberania brasileira

Ex-embaixador dos EUA diz que tarifas de Trump foram um presente para o Brasil | Foto: Reprodução/Instagram/realdonaldtrump
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O ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, avaliou a recente ameaça do presidente americano Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros como uma tentativa de interferir no processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Entretanto, segundo Shannon, o efeito prático da medida pode acabar favorecendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao fortalecer a posição do Brasil como um país soberano que não tolera ingerências externas.

“O que o presidente Trump fez foi dar um grande presente ao presidente Lula”, afirmou Shannon. Para o diplomata, que é uma das maiores referências em assuntos latino-americanos nos Estados Unidos, a estratégia de Trump tem como objetivo impedir diretamente que Bolsonaro seja julgado e mantido inelegível, mas não surtirá efeito. “O governo brasileiro não vai conseguir negociar sua integridade institucional”, ressaltou.

Ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon (Foto: Reprodução)


Pressão política

Para o ex-embaixador a tentativa de pressão política dificilmente terá sucesso. “O Brasil é conhecido por respeitar a independência de suas instituições e não permitirá que uma potência estrangeira dite os rumos do seu processo democrático”, afirmou.

Além disso, Shannon também apontou que a própria economia americana poderá reagir negativamente à medida. “Indústrias importantes dos Estados Unidos, especialmente as que dependem de importações brasileiras, como café e suco de laranja, vão pressionar Trump para recuar”, disse. Ele também mencionou que o USTR, órgão responsável pelas negociações comerciais, teria sido surpreendido pelo anúncio, que partiu de uma decisão pessoal de Trump.

Já sobre a relação diplomática, Shannon destacou que o governo tentou abrir canais de comunicação com a Casa Branca, mas encontrou dificuldades. “O governo brasileiro buscou ativamente o diálogo, mas há poucas pessoas dispostas a conversar, porque estavam focadas em outras agendas”, disse.

Em relação a justificativa para a tarifa de 50%, Shannon foi direto: “Não há lógica econômica. É um número pensado para chocar”. Ele também apontou que a ameaça não se sustenta juridicamente: “Nenhuma das bases legais para aplicação de tarifas nos Estados Unidos se encaixa neste caso. A legalidade certamente será questionada, mas alguém precisa fazer isso formalmente”, completou. A declaração ocorreu em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

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