Sete anos depois de denunciar o mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, continua no ataque.
Às vésperas de ser julgado com outros 37 réus no STF (Supremo Tribunal Federal), ele sugere que o ministro Joaquim Barbosa tentará condená-lo e o acusa de "jogar para a galera" e buscar "aplausos em botequim".
Jefferson mantém a versão de que o ex-presidente Lula não sabia do esquema de compra de apoio a seu governo no Congresso e diz que será absolvido das acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
"Não serei condenado. Não serei preso. Escreve isso", diz.
O petebista será operado sábado para retirar um tumor no pâncreas, descoberto na semana passada. Deve ficar internado até o início do julgamento.
Confira a entrevista que Roberto Jefferson deu à Folha:
Folha - Como o sr. se sente às vésperas de ser julgado pelo escândalo que denunciou?
Roberto Jefferson - Acho que está na hora. Chega. Quanto mais adia, mais aumenta o sofrimento. Em algum momento você tem que enfrentar, e a hora é agora.
O que espera do STF?
Penso que a decisão será severa sem ser política. O Supremo não vai permitir isso. A meu ver, o ministro Joaquim Barbosa [relator do caso] joga para a galera. Ele não sentencia no direito. O negócio dele é aplauso em botequim, ele gosta disso. O Joaquim devia se inscrever em partido político, daria um grande candidato. Eu o receberia no PTB de braços abertos. [risos]
E os demais ministros?
Os outros não têm esse negócio. A tradição da casa não é essa. Vai ser todo mundo absolvido? Não acredito. Mas não será uma sentença política. O Ayres Britto [presidente do STF] é amicíssimo do governador de Sergipe [Marcelo Déda, do PT]. Foi feito ministro por ele e não é comprometido. O Marco Aurélio, o Gilmar Mendes... O Ricardo Lewandowski, apesar da relação com o PT, tem uma postura independente.
Teme ser condenado?
Se eu tivesse medo, não dormiria à noite. Eles têm a história para julgá-los, a opinião pública. Tem coisas que não dá, apesar da amizade. Tenho certeza de que serei absolvido. Se é justo, não pode me condenar. Eu não aceito uma condenação. Não se aplica à minha conduta. Eu não me vendi. Não serei condenado e não serei preso. Não serei preso, escreve isso aí.
O sr. admitiu ter recebido R$ 4,5 milhões do esquema e é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Não tem o menor cabimento. Seria o fim da desfaçatez eu ter me vendido ao mensalão. Eu adverti o governo um ano antes. Adverti o Lula.
Nem tudo é mensalão. Não acredito que o [deputado petista] João Paulo tenha se vendido, acho absurda a acusação. Ele não tem nada a ver com esse troço. Foi lá, pegou R$ 50 mil e resolveu um problema da vida dele, mas não vendeu voto.
Sua alegação de que só recebeu dinheiro para saldar dívidas é a mesma de outros réus que o sr. acusou de venderem apoio ao governo.
Então o meu advogado, o [Luiz Francisco] Barbosa, está de parabéns. E ele é 0800, está me defendendo de graça porque é companheiro de partido e meu amigo.
O sr. já disse que o ex-ministro José Dirceu é seu "irmão siamês" no processo. Por quê?
Se ele não for absolvido, vai haver pressão para levar todo mundo. Se for, abre a porta para outras absolvições. Ele pode fazer a picada para outras condenações. A corte vai ter problema se condenar o Dirceu e não o resto.
Alguém tentou pressioná-lo ao longo do processo?
Não. Nenhuma ameaça, nada. Eu também não abro muito a porta. Nunca visitei um ministro do Supremo.
O que achou de aliados de Lula se reunirem com Marcos Valério, acusado de operar o esquema? Houve chantagem?
Não quero comentar isso. Seu advogado disse que Lula já sabia e autorizou o esquema. É verdade? O Lula custou a agir, custou a acreditar. Mas minha impressão é que ele não sabia. Tenho grande admiração por ele. É um grande político, não abandona os amigos. O Lula vai continuar sendo o Lula. Ele é povo, tem a catinga do povo.
O Supremo vai confirmar a história que o sr. contou? Outros réus sustentam não haver prova de pagamentos mensais por apoio.
Não sei se vão escrever a história que eu contei, mas há condutas que vão ser apenadas. O Ministério Público apostou na minha tese, mas não estou preocupado que ela prevaleça.
Minha denúncia era política, e eu sou vitorioso no efeito e na consequência que ela causou. A imprensa tratava o PT como se fosse o único partido bom, o filete de água limpa no cano de esgoto. Isso acabou. Mas não torço pela condenação de ninguém.
Tem algum arrependimento?
Faria tudo novo. Agora é história. O mensalão não me pertence mais. Não sou mais o protagonista.