Em meio a berrantes, mulas e jatinhos, um dos empresários mais bem-sucedidos do país tenta abrir caminho rumo ao poder em Goiás.
Desde maio, quando se filiou ao PMDB numa articulação das cúpulas do partido e do PT, José Batista Júnior, 53, o Júnior Friboi, já passou por 128 das 246 cidades do Estado --e quer visitar todas até a metade do próximo ano.
O objetivo do ex-integrante do conselho de administração da JBS (ex-Friboi) é ser candidato a governador.
Para isso, precisa antes vencer resistências internas no partido, conquistar líderes locais e a militância. A tarefa está encaminhada: a cúpula do PMDB-GO já reconhece que Júnior tem apoio majoritário na sigla.
O roteiro do empresário pelo cerrado goiano incluiu caravana em lombo de mula e até almoço de bife e arroz em beira de estrada, a convite de um caminhoneiro.
Em Simolândia (a 460 km de Goiânia), por exemplo, ele foi estrela de abertura de um rodeio --tocou berrante no centro da arena.
"Gostam de ver o homem rico sentado em mula", diz o aliado e deputado federal Pedro Chaves (PMDB), sobre a recepção a Júnior no interior.
As viagens são feitas em jatinhos (próprio e alugados) e no helicóptero recém-comprado. Carro, só nas agendas no entorno de Goiânia.
SONHO ANTIGO
Conquistar o poder em Goiás é sonho antigo do empresário, que já passou por PSDB, PTB e PSB.
Atraído ao ninho tucano pelo governador --e hoje rival-- Marconi Perillo, desistiu da investida em 2005 após enfrentar denúncias de cartel na produção de carne.
Ele negou as acusações, a Friboi assinou acordo e a investigação foi para o arquivo em 2009.
A filiação ao PMDB foi uma espécie de "tiro duplo" bancado pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), a quem Júnior chama de "padrinho", e pelo ex-presidente Lula.
Encorpa um possível palanque da presidente Dilma no Estado e enfraquece o PSB do presidenciável Eduardo Campos, governador de Pernambuco --Júnior Friboi era presidente do PSB em Goiás.
"Quando me filiei [ao PSB, em 2011] a perspectiva era que o Eduardo Campos apoiasse a reeleição da presidente Dilma, a quem apoio. Quando ele escolheu outro caminho, aceitei o convite do PMDB", disse o empresário à Folha, por e-mail.
BLINDAGEM
E se a JBS foi vice-líder nacional (e campeã em Goiás) nas doações de campanha em 2010, com R$ 75 milhões, o projeto político quer blindar o empresário das acusações de conflito de interesses.
Responsável pelo frigorífico na fase de internacionalização do grupo, hoje maior produtor mundial de carnes, Júnior não é mais sócio-controlador da empresa --deixou a missão aos irmãos Joesley e Wesley Batista. Ele diz ser apenas mais um investidor comum no grupo.
"Afastei-me da direção do grupo antes de iniciar meu projeto político exatamente para não confundir as coisas", disse Júnior à reportagem.
Nos discursos do político, contudo, a imagem da empresa --alvo de atual campanha milionária de publicidade-- é sempre lembrada. Como no ato em que celebrou, em maio, sua entrada no PMDB.
"A gente vende carne. Mas o sucesso do nosso negócio é e sempre será atrair gente."