Rosângela da Silva, conhecida como Janja, primeira-dama do Brasil, desempenhou um papel crucial na contenção das tensões entre parte dos militares que buscavam assumir o controle do governo em 8 de janeiro de 2023. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) revelou, em entrevista ao documentário "8/1: A Democracia Resiste", da GloboNews, um ano após o episódio de violência em Brasília, como a socióloga influenciou a decisão no cenário político.
Lula compartilhou que Janja foi a primeira a alertá-lo sobre os riscos de decretar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Segundo o presidente, ela argumentou que a medida poderia abrir espaço para uma ala militar que buscava romper com a democracia.
"Janja me alertou: 'Não aceita GLO porque é exatamente o que eles querem, é tomar conta do governo'", relatou Lula. "Se eu dou autoridade para eles [militares], eu tinha entregado o poder para eles", acrescentou.
O conselho da primeira-dama foi acatado por Lula, mas enfrentou forte resistência entre os membros da Defesa. O ministro José Múcio Monteiro, por exemplo, foi um dos defensores contrários à posição de Janja e pressionou o presidente para que o decreto fosse assinado.
Durante a entrevista para o documentário, Lula compartilhou que, literalmente, bateu na mesa para reforçar sua posição: "Disse que não ia ter GLO", rememorou ao descrever o tenso episódio.
A GLO, prevista no artigo 142 da Constituição Federal, é aplicada em situações graves de perturbação da ordem, quando as forças tradicionais de segurança pública, como a Polícia Militar e a Polícia Civil, se mostram insuficientes. O decreto concede às Forças Armadas a atribuição de poder de polícia até o restabelecimento da normalidade.
No sábado (6), dois dias antes do primeiro aniversário da tentativa de golpe no país, Lula já havia explicado os motivos que o levaram a não decretar a GLO. Na ocasião, o argumento de Janja sobre a disputa de poder foi reforçado por Lula. "Eu disse ao ministro Flávio Dino que não teria GLO. Eu não faria GLO porque quem quiser o poder que dispute as eleições e ganhe, como eu ganhei as eleições", declarou em um vídeo após questionamento do jornal Folha de S. Paulo.
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