O dono de um supermercado de Belo Horizonte disse em depoimento à Receita Federal que entregou em caixas de sabão em pó dinheiro de propina da empresa JBS para representantes do senador Aécio Neves (PSDB), segundo informou nesta sexta-feira (16) o jornal "O Globo".
O depoimento do empresário Waldir Rocha Pena foi dado à Receita Federal e depois compartilhado com a Procuradoria Geral da República e com a Polícia Federal, que usou as informações na Operação Capitu, um desdobramento da Operação Lava Jato. A operação investiga suspeita de corrupção no Ministério da Agricultura. Waldir Pena chegou a ser preso na operação e solto posteriormente.
A defesa do senador Aécio Neves diz que desconhece o assunto e que a afirmação do empresário "é mentirosa". "O senador desconhece o assunto. A total ausência de provas comprova o cárater mentiroso da afirmação. Todas as doações recebidas pela campanha nacional do PSDB em 2014 foram legais e estão devidamente declaradas junto à Justiça Eleitoral", afirmou em nota a defesa.
A assessoria de Zezé Perrella afirmou por nota que não foram encontradas provas que relacionem pagamentos da JBS ao senador.
De acordo com o empresário Waldir Rocha Pena, dono do supermercado BH, foram feitas quatro entregas de dinheiro vivo, em nome da JBS, para Frederico Pacheco, primo do senador Aécio Neves e também a Mendherson Souza, ex-assessor do senador Zezé Perrella (MDB-MG).
O depoimento do empresário confirma informações da delação premiada do executivo Ricardo Saude, do grupo J&F (ao qual pertence a JBS). Ele disse ter repassado cerca de R$ 4 milhões para o senador Aécio Neves por meio do primo, dinheiro que teria sido obtido por meio de operações financeiras com supermercados.
Segundo Waldir Pena, cabia a ele a "disponibilização de recursos em espécie". Ou seja, o supermercado entregava o dinheiro vivo a representantes da JBS, e o grupo abatia esses valores da venda de suas mercadorias para o supermercado.
O advogado de Mendherson Souza, Antônio Velloso Neto, afirmou que a defesa desconhece o assunto, que não teve acesso à investigação, mas que não concorda com as declarações. Segundo o advogado, a afirmação de Waldir Pena é "inverídica" e uma "mentira estúpida".
Segundo a defesa de Frederico Pacheco, as declarações do empresário são "deslavada mentira". Informou ainda que, se intimado a prestar declarações, Pacehco esclarecerá que jamais esteve em qualquer estabelecimento do supermercado BH para receber dinheiro.
Frederico Pacheco e Mendherson Souza se apresentaram para receber o dinheiro como "representantes da JBS", segundo o empresário. Os dois já foram flagrados no ano passado em ações controladas da Polícia Federal recebendo dinheiro vivo dentro da JBS em nome de Aécio Neves.
Em abril, Pacheco, Mendherson e e Aécio Neves viraram réus em uma ação que tramita no Supremo Tribunal Federal por suspeita de corrupção em razão de dinheiro que teriam recebido da JBS.
O advogado do supermercado BH, Carlos Alberto Arges, afirmou em nota que as declarações de Waldir Pena não procedem e que nunca houve pagamento de propina:
''Em razão da notícia publicada pelo jornal 'O Globo' na data de hoje, na condição de procurador dos acionistas majoritários dos supermercados BH, venho esclarecer que não procedem as afirmativas feitas pelo sócio minoritário da empresa (sr. Waldir) e que jamais houve pagamento de valores a título de propina ou a qualquer outro ao senhor Frederico Pacheco. Que estes fatos serão esclarecidos oportunamente aos órgãos competentes", diz a nota.