Embaixadora do Brasil na Coreia faz resumo de viagem do governador do Piauí

Márcia Donner Abreu, embaixadora do Brasil na Coreia, produziu um resumo da agenda do governador Rafael Fonteles no país. Confira os relatos a seguir:

Embaixadora do Brasil na Coreia faz resumo de viagem do governador do Piauí | Reprodução
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O governador do estado do Piauí, Rafael Fonteles, realizou missão oficial prospectiva à Coreia do Sul em 2 e 3 de novembro. Ele esteve acompanhado de representantes dos poderes  Legislativo e Judiciário, e da Agência de Atração de  Investimentos Estratégicos do estado (Investe Piauí). 

As reuniões voltaram-se para os temas de economia verde, em especial hidrogênio, e educação. Antes do início da  programação, conversei com o governador Fonteles e a delegação acerca de sua sequência de missões na Europa e na Ásia para apresentar, entre outros, o projeto de transformar o Piauí em hub de hidrogênio verde e como os encontros na Coreia poderiam contribuir para esse objetivo.

Márcia Donner Abreu, embaixadora do Brasil na Coreia, produziu um resumo da agenda do governador Rafael Fonteles no país. Confira os relatos a seguir:

Na reunião em 2/11, a delegação piauiense foi recebida pelo reitor do KVCIT, Hong-jin Kim, e o presidente da Educacional de Tecnologia da Informação da Coreia,  Myoung Young Kim. Fundado em 1998, o KVCIT oferece cursos  técnicos em nível de graduação voltados para TI, como programação e codificação, design de semicondutores, entre outros, com disciplinas direcionadas à formação empreendedora. 

A instituição apresenta alta taxa de empregabilidade no competitivo mercado de trabalho coreano e também possui cursos de formação de professores e alunos estrangeiros, em inglês. O reitor colocou o KVCIT à disposição para contribuir com o projeto de desenvolvimento do Piauí.

O governador destacou o papel imprescindível da educação como forma de aproveitar o potencial do Piauí em energias renováveis e desenvolver a economia do estado. Com mais de 600 escolas ofertantes de cursos técnicos, o Piauí tem na Coreia um exemplo a ser seguido. Fonteles propôs assinatura de Memorando de Entendimento (MoU) para aprofundar a cooperação entre o estado e o KVCIT, buscando adaptar o modelo da instituição coreana ao projeto piauiense de fomentar a formação técnica durante o ensino médio e cursos de graduação de 2 anos e meio, na modalidade tecnóloga.

Em 3 de novembro, como desdobramento da reunião no dia anterior, realizou-se a cerimônia de assinatura do MoU entre as partes, da qual participei.

No Hyundai Motor Group, o governador do Piauí foi recebido pelo Vice-Presidente Executivo e Chefe da Divisão Global de Veículos Comerciais e Negócios de Hidrogênio, Ken Ramirez. Em visita prévia à sala de exibição da empresa, o VP apresentou ao governador o Nexo, veículo elétrico comercial movido a célula de combustível (FCEV), que transforma a energia química do hidrogênio em eletricidade.

Durante a reunião, representantes da Hyundai apresentaram o hidrogênio como seu novo pilar de negócios e o caminho para a neutralidade do carbono, meta que o grupo planeja  até 2045. A empresa mantém atividades de P&D voltadas para o hidrogênio há 25 anos, com cerca de USD 1 bilhão investido. São importantes marcos decorrentes desses investimentos os lançamentos do primeiro protótipo de carro movido a célula de combustível (2000), do veículo Nexo (2018), do caminhão Xcient (2020) - o primeiro da categoria a ser produzido em larga escala - e o ônibus ELEC CITY (2021). 

A empresa estima que há atualmente mais de 35 mil veículos Nexo, 100 caminhões Xcient e 400 ônibus ELEC CITY em circulação no mundo.

A Hyundai planeja expandir o uso de hidrogênio limpo da mobilidade para outros aspectos da vida cotidiana e para as indústrias, em modelo de negócios baseado em lógica, que transforma resíduos em energia. O objetivo é aplicar o hidrogênio a diversas áreas como a produção de aço, mobilidade urbana, transporte de cargas (marítimo e terrestre) e geração de energia elétrica para cidades.

O governador do Piauí convergiu com a percepção da Hyundai sobre a importância do hidrogênio no processo de descarbonização, principalmente quando aplicado às indústrias siderúrgica e química e ao transporte pesado. Apresentou o projeto para converter o estado em grande produtor de hidrogênio verde (H2V), a preço acessível, para o Brasil e para o mundo. Citou relatório da BloombergNEF (2021), que aponta o Brasil como país que terá o menor custo de produção de H2V do mundo até 2030 - desconsiderada  eventual concessão de subsídios governamentais. 

O projeto piauiense estima produção inicial de 5 GW de amônia verde por ano. Em outubro passado, o governo estadual assinou carta de intenções com a Green Energy Park, consórcio europeu, que prevê investimentos de 10 bilhões de euros.

Como vantagens naturais do Piauí, Fonteles sublinhou o potencial eólico e solar, a existência da terceira maior oferta de água subterrânea do Brasil e a localização geográfica privilegiada para exportação. O estado conta com as maiores usinas solar e eólica da América Latina. O Porto de Luís Correia, ainda em construção, permitirá rápido acesso a mercados na Europa e eventualmente Ásia (via Canal do Panamá). 

Entre os pontos institucionais, destacou a Zona de Processamento para a Exportação (ZPE) e regras menos rígidas para a exploração de recursos hídricos quando comparadas a de outros estados na região Amazônia, por exemplo. Fonteles mencionou ainda o projeto de lei do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) para o triênio 2023-25, em discussão no Congresso Nacional, como meio de conferir maior segurança jurídica, conceder incentivos fiscais específicos e atrair mais investimentos no setor.

Na área educacional, a delegação do Piauí também manteve reunião com a Riiid, startup fundada em 2014 que desenvolve soluções de tutoria personalizada, por meio do emprego de Inteligência Artificial (IA) para mapear perfis de aprendizado dos estudantes, prever o desempenho e recomendar conteúdos personalizados para cada aluno. Os primeiros aplicativos da Riiid foram o "Santa", por meio do qual os estudantes têm seu perfil avaliado e recebem recomendações para melhoria de seu desempenho (livros, vídeos, questões, etc.); e o "Ednet", um banco de dados aberto com informações coletadas desde 2017 por meio do "Santa" que permite consultar taxa média de erro em perguntas específicas, tempo médio para resolução de questões, entre outras. 

Sediada em Seul, a empresa conta com subsidiária nos EUA e atualmente possui mais de 2,5 milhões de usuários no Japão e Coreia do Sul. Em junho deste ano, assinou um termo de cooperação com o Governo do Paraná, voltado para estudar formas de empregar suas soluções à rede estadual de educação (cf. tel 211).

No caso do Piauí, a delegação foi recebida pelo engenheiro de pesquisa Hyubin Loh e pelo gerente de projetos e desenvolvimento de negócios Paul Kuper. Após rápida apresentação da empresa, Kuper sugeriu adaptar ferramentas da Riiid ao que o Piauí dispõe ou desenvolver solução específica para o estado. Ao mencionar que o Piauí já possui banco de dados com desempenho dos alunos, o governador propôs a assinatura de MoU para a criação de ferramenta específica, com material didático digitalizado, a ser disponibilizada gratuitamente na rede piauiense e, no futuro, em âmbito nacional. 

A proposta do Piauí encontra-se em análise pela Riiid, que pode realizar visita ao estado em 2024, caso se decida pela assinatura do MoU.

A comitiva do estado do Piauí realizou visita à Polícia Metropolitana de Seul, ocasião em que foram apresentados ao modelo de policiamento da cidade, incluindo o sistema de monitoramento via CCTV e o uso de localização por GPS para gerenciar ocorrências, como acidentes e roubos de veículos. Seul (e região metropolitana) mantém efetivo de 20 mil policiais, que atendem diariamente a mais de 11 mil emergências.

As 890 câmeras localizadas em diversos pontos de Seul e sua região metropolitana estão acessíveis ao público, por meio do aplicativo Naver ou do site da Polícia Metropolitana. Apesar de contar com equipamentos que captam imagens em alta definição, o monitoramento de indivíduos específicos e uso do sistema para reconhecimento facial estão limitados pela Lei de Proteção de Informações Pessoais. Para acidentes de trânsito, está em desenvolvimento solução baseado em IA para permitir detecção mais eficaz pelo sistema de CCTV.

Na área do hidrogênio verde, o governador Rafael Fonteles foi recebido pelo presidente da H2KOREA, Jae-do Moon. Na ocasião, conheceu melhor as metas coreanas para o H2 e a estrutura de cooperação internacional da organização, bem como apresentou o projeto de H2V do estado - detalhado na reunião da Hyundai Motor - e buscou explorar formas de aprofundar a cooperação futura, inclusive com proposta de MoU.

Criada em 2017, a H2KOREA é uma entidade público-privada à qual estão associadas 154 empresas e tem como propósito o de promover o H2 como forma de alcançar a neutralidade de carbono. Em 2020, foi designada pelo governo da Coreia como agência dedicada à promoção da indústria do hidrogênio no país. A H2KOREA mantém rede de cooperação por meio de MoUs com 21 organizações, de 15 países e da União Europeia - nenhuma delas da América Latina.

Além disso, a H2KOREA integra a "Global Hydrogen Industrial Association Alliance" (GHIAA), uma plataforma de cooperação global na cadeia de H2, em áreas como atividades relativas a P&D, cadeias globais de fornecimento, certificação internacional, identificação de oportunidades de negócios, entre outras. Ao todo, são 21 instituições na GHIAA - três delas na América do Sul: a Associação Chilena de Hidrogênio, a Associação Colombiana de Hidrogênio e o Consórcio para o Desenvolvimento da Economia do Hidrogênio na Argentina.

Foram explicadas à delegação piauiense as três estratégias contidas no plano coreano para fomentar a economia do hidrogênio: "scale up", "build up" e "level up"(cf. tel 775/2022), que consistem, respectivamente, em incentivar o uso do hidrogênio na geração e no transporte de energia em grande escala, além de expandir a mobilidade com emprego de veículos de grande porte; desenvolver infraestrutura de distribuição, de modo a estimular o uso do hidrogênio limpo; e transformar a indústria coreana de H2 na primeira do mundo, com inovações tecnológicas em áreas estratégicas como eletrólise da água e construção de navios-tanque para transporte de hidrogênio.

Entre as metas contidas no plano básico da economia de hidrogênio da Coreia, estima-se que a demanda doméstica de H2 saltará de 3,9 mil toneladas em 2030 para 27,9 mil toneladas em 2050. Nos mesmos anos, a geração de hidrogênio passará de 48 terawatt-hora (TWh) para 288 TWh. Espera-se que a participação de H2 limpo no mercado doméstico de geração energia chegue a 2,1% (2030) e 7,1% (2036). Até 2040, a Coreia planeja contar com sistema de células de combustível de 10 megawatts e tecnologia de motores para navios movidos a hidrogênio.

Fonteles apresentou o projeto do Vale do H2V do Piauí e destacou o papel do estado como potencial fornecedor de hidrogênio e amônia para a Coreia. O presidente da H2KOREA esclareceu que, como forma de reduzir sua dependência em relação a combustíveis fósseis e alcançar a neutralidade de carbono, o país planeja desenvolver sua própria indústria de H2 para atender à demanda doméstica, limitando-se à importação de amônia para produzir hidrogênio (verde, azul e rosa) localmente. Na proposta de estabelecer mecanismo de cooperação, Moon disse ser possível MoU entre o governo do estado do Piauí e a H2KOREA. Sugeriu ainda que uma associação de abrangência nacional do setor de hidrogênio busque integrar a GHIAA, dado que apenas uma instituição por país pode integrar a aliança.

Seguirão para o correio eletrônico da DER as apresentações do hub de hidrogênio verde do estado do Piauí e da H2KOREA.

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