A Procuradoria Regional Eleitoral do Mato Grosso do Sul investigará denúncia de assédio eleitoral ocorrido em Coronel Sapucaia (MS), cidade a 420 km da capital Campo Grande, com beneficiários do Auxílio Brasil.
O caso foi revelado pelo repórter Caco Barcellos no Profissão Repórter na segunda-feira (1). "Serão solicitadas diligências ao promotor eleitoral de Coronel Sapucaia para instruir o feito", afirma o Ministério Público Eleitoral no estado na manhã desta quarta-feira (2).
A reportagem do Profissão Repórter mostrou que, menos de 48 horas antes do 2º turno, cidadãos que recebem o benefício social Auxílio Brasil foram convocados no centro da cidade para uma reunião, sobre a qual ninguém queria falar ou sabia dizer o que era.
Moradores que aceitaram falar com a reportagem disseram que as pessoas foram incentivadas a votar em Jair Bolsonaro na eleição de domingo. Uma senhora que mora ao lado do local onde acontecia a reunião revelou que ela já estava ocorrendo havia três dias.
"Antes não tinha essa reunião não. Disse que era para assinar o negócio do Bolsa Família. Aí ontem que eu ouvi falando que, quando acaba a reunião, o Rudi [Paetzold, prefeito de Coronel Sapucaia] dá R$ 50 para cada um. Rudi é o prefeito daqui", contou.
Empate no 1º turno, vitória de Bolsonaro no 2º
Coronel Sapucaia (MS) é uma das 3 cidades em todo o Brasil em que Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) tiveram exatamente o mesmo número de votos no primeiro turno: 4.295 votos cada um.
Mas, no segundo turno - após, portanto, as reuniões em que os beneficiários do Auxílio Brasil foram incentivados a votar no atual presidente da República -, o número de votos em Bolsonaro subiu para 4.530. Ou seja, 235 a mais que no primeiro turno. Já os votos em Lula caíram para 4.049, ou seja, 246 a menos.
No primeiro turno, o total de votos brancos (48) e nulos (284) foi menor do que no segundo turno, com 63 votos brancos e 432 nulos.
O que diz o prefeito
Questionado em uma gincana entre escolas promovida pela Secretaria Municipal de Educação, o prefeito disse que não estava na cidade e não organizou a reunião.
Caco: A gente esteve no centro cultural e tinha uma fila grande de pessoas tendo que deixar o nome... Pessoas que recebem o auxílio.
Assessora 1: Aqui nós não estamos para falar de política. Aqui nós estamos...
Caco: Mas lá estavam falando sobre política. Por isso que estou perguntando.
Assessora 1: Mas aqui não estamos falando de política.
Caco: Mas estou falando de lá para o prefeito.
Assessora 1: O prefeito não tem que responder.
Prefeito: Inclusive eu estava... Não estava nem... Passei por passar. Nós estávamos fazendo campanha política, não estávamos nem na cidade. Eu estava na aldeia indígena agora.
Caco: Eu sei, mas todas as pessoas estão dizendo lá que o senhor que organizou essa...
Prefeito: Não, eu não.
Caco: Mas como é que tem tanta gente lá?
Assessora 2: A gente tem horário para terminar.
Prefeito: Quem organizou foi a Secretaria de, de...
Assessora 2: Isso aqui é um evento que temos horário para terminar, gente.
Horas depois da declaração dada pelo prefeito, uma pessoa da cidade ligou para o jornalista Caco Barcellos para dizer que era perigoso continuar a reportagem na região.
"Fiquei preocupado, extremamente preocupado. Eu sugeriria para vocês terminar a pauta o quanto antes. Se você quiser continuar aqui na cidade trabalhando, é o teu trabalho. É assim: sua conta e risco. Mas eu conheço bem aqui a cidade. É complicado", disse.