SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) relembrou nesta sexta-feira (28), no debate da TV Globo, uma fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) em que ele disse ter considerado o aborto de um dos filhos –a declaração foi dada na época em que o chefe do Executivo era deputado federal, em 2000.
"O candidato se lembra desse discurso? Eu vou ver um trecho aqui. Não adianta uma multidão de brasileiros subnutridos sem condições de servir a seu país. Conclui o teu deputado que oferece que seja distribuído pílula de aborto para a sociedade brasileira em 1992, quando era deputado. Falou isso ou não?", questionou Lula.
Bolsonaro, então, elevou o tom e chamou o adversário de abortista, além de dizer que a pílula seria a "do dia seguinte", considerada um método contraceptivo e não um abortivo. "30 anos atrás? Não confunda pílula do dia seguinte", falou.
"Eu posso mudar. Agora você, há poucos dias, falou claramente que aborto é uma questão de saúde pública! Que as madames iam fazer aborto lá fora. Aqui dentro as mulheres faziam outras coisas. Você é abortista, Lula. Você é abortista convicto", afirmou.
Bolsonaro declarou o seu pedido de aborto à ex-esposa à revista IstoÉ, conforme trechos recuperados pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. A entrevista, de fevereiro de 2000, trouxe o presidente classificando o aborto como "uma decisão do casal".
Questionado se já havia passado por essa situação, Bolsonaro confirmou: "Já. Passei para a companheira. E a decisão dela foi de manter. Está ali, ó", respondeu, apontando para uma foto de Jair Renan.
A jornalista Andréia Sadi, da TV Globo, resgatou outro movimento do presidente a favor do aborto. Em 1992, o então deputado disse apoiar as "pílulas do aborto".
No embate na noite desta sexta-feira, Lula afirmou ser contra o aborto, assim como "as minhas mulheres eram contra o aborto, minha mulher é contra o aborto". Bolsonaro, então, disse: "não vou trazer aqui o caso da primeira mulher dele porque... Eu quero respeitar essas pessoas, respeitar a filha que nasceu naquele momento".
Bolsonaro muda versão e diz não ter foto com Jefferson 'por ocasião das eleições'
Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) tentaram, novamente, jogar Roberto Jefferson (PTB) um para o outro.
O presidente afirmou que Jefferson é "amigo de roubalheira" e "parceiro na compra de votos" de Lula, em referência ao mensalão.
Lula disse que, se um negro da favela fizesse o que Jefferson fez, Bolsonaro teria "mandado matar". "Você chegou a dizer que não tem foto com ele. A imprensa escancarou as fotos. Você não pode ter duas personalidades, cara, tenha uma só", disse.
Bolsonaro, então, respondeu que não tem fotos com Jefferson "por ocasião das eleições".
Bolsonaro critica o Mais Médicos em debate
Jair Bolsonaro (PL) critica o programa Mais Médicos, afirma que os cubanos não entendiam nada de medicina e que Lula (PT) usou a medida para repassar dinheiro para Cuba.
Lula, porém, não mordeu a isca. Respondeu apenas que o programa foi "exitoso" e levou médicos para lugares onde não havia. Também elogiou a saúde em Cuba, dizendo ser reconhecida até por presidentes dos EUA. O petista mudou de assunto e questionou Bolsonaro sobre suas realizações na saúde.
"Mandetta foi mandado embora porque defendia a vacinação. E botou o Pazuello que queria ganhar US$ 1 por vacina, segundo a CPI", disse Lula.
Bolsonaro se diz vítima, e Lula o chama de mentiroso em debate sobre mínimo
Bolsonaro e Lula travaram discussão acalorada sobre questões referentes ao salário mínimo, hora extra de trabalhadores e décimo terceiro no início do debate da TV Globo, na noite desta sexta-feira (28).
Sorteado para fazer a primeira intervenção, Bolsonaro indagou sobre a propaganda eleitoral gratuita do adversário e rebateu alegações de que, se for reeleito, pretende congelar o salário mínimo e dar fim ao pagamento de horas extras.
Na versão do postulante à reeleição, Lula teria veiculado tais acusações nas propagandas de TV e rádio com o objetivo de atacar o oponente. Durante a fala, ele prometeu que vai aumentar o salário mínimo para R$ 1.400.
O petista reagiu: "Por que não aumentou o salário mínimo acima da inflação nos quatro anos do seu governo?".
O petista ainda chamou Bolsonaro de "mentiroso" e, em tom de ironia, afirmou que ele estaria "descompensado".
"Ao longo dos últimos dias, Lula, o seu partido foi à televisão e [usou] inserções de rádio para dizer que eu não ia reajustar o mínimo, que eu não ia reajustar as aposentadorias, e também que eu ia acabar com o décimo terceiro, com as férias e com as horas extras. Tu confirma isso? Fim do décimo terceiro, fim das horas extras e também das férias? Mentiroso. Não vai responder? Não vai responder sobre os teus programas eleitorais gratuitos?", indagou o atual mandatário.
"Parece que meu adversário está descompensado. Porque ele é um samba de uma nota só. Estou dizendo que mentiroso é o presidente Bolsonaro que, mentiu 6.498 vezes durante seu mandato e que só nos programas de televisão nós conseguimos 60 direitos de respostas das mentiras que ele conta. É isso", respondeu Lula, na réplica.
"Então, é o seguinte presidente. Diga um pouco a verdade. Se quiser um tempo eu dou um tempo, descansa e conversa com sua assessoria para fazer um debate aqui pensando no futuro desse país."
No Brasil, o salário mínimo -hoje em R$ 1.212- também serve de referência para aposentadorias, pensões e outros benefícios pagos pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
POR: CAROLINA LINHARES, JOELMIR TAVARES E FELIPE BÄCHTOLD