O ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior declarou nesta quarta-feira apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no 1° turno da eleição para presidente da República.
Reale foi um dos autores do pedido de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2015. Agora, diz ser necessário apoiar os petistas para "evitar o pior", em referência ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
— Eu creio que nós devemos nesse instante evitar um mal maior. Evitar que haja conturbações na vida social brasileira — disse Reale ao GLOBO — (Garantir que) não haverá ofensas a ministros do Supremo ou do TSE. Não haverá ameaça de golpe.
O ex-ministro disse que sua declaração teve como base a preocupação com o "desespero" de Bolsonaro e o "risco de ameaça de golpe". Ele também comparou sua escolha hoje com a decisão de apoiar Lula contra Fernando Collor em 1989.
— Bolsonaro já usou o enterro da rainha Elizabeth II e a reunião da ONU para fazer campanha. Imagine o que ele faria no segundo turno? Com risco da ameaça contínua de golpe que ele sempre repete, assim como da (falsa) insegurança das urnas eletrônicas, inclusive na ONU — disse.
Reale era entusiasta da chamada terceira via, alternativa a Lula e Bolsonaro, que, no entanto, não conseguiu quebrar a polarização entre os dois. A senadora Simone Tebet (MDB), um dos nomes preferidos pelos defensores da terceira via, tem 5% das intenções de votos válidos, segundo a última pesquisa do Ipec (ex-Ibope) divulgada na segunda-feira. Ao ser questionado se a senadora deveria desistir para apoiar Lula, Reale disse:
— Não sei. Eu a admiro muito. Acho que ela é a candidata ideal, mas está com 5% (da intenção de votos) a dez dias da eleição. Lamento muito.
"Decidir por Lula é consequência de saber que assim se evitará ataques à democracia, à dignidade da pessoa humana e ao meio ambiente, que, com certeza, sucederão com maior intensidade em novo mandato do Bolsonaro", escreveu Reale mais cedo em uma nota enviada a jornalistas. "Sem perspectiva de vitória da terceira via, é importante que Lula vença no primeiro turno, para se impedir ação desesperada de Bolsonaro", defendeu Reale.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que não houve contato da campanha com Reale, mas classificou o apoio como "importante".
— Acho que é importante, nós temos várias pessoas que participaram daquele processo de impeachment e que hoje avaliam que aquilo foi um erro, que realmente teve problema com a democracia. Então eu vejo, numa atitude como essa, o reconhecimento de que nós temos que reconstruir aquilo que foi destruído, em nome do povo brasileiro.