Os argentinos vão às urnas em eleições legislativas, na metade do mandato da presidente Cristina Fernández de Kirchner e com sinais de contração econômica, após seis anos consecutivos de forte crescimento. A votação se iniciou às 8h deste domingo (28). Há 27,7 milhões de eleitores habilitados (ou 70% da população), para um pleito que elegerá metade das cadeiras do Câmara dos Deputados (127 de 257 vagas), um terço do Senado (24 cadeiras de 72), e cadeiras em legislativos, provinciais e municipais.
Há irritação do setor agropecuário pela pressão fiscal, motivo da sequência de greves do ano passado, e que culminou em forte descontentamento da população de classe média.
Ao mesmo tempo aumentam as críticas ao Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). O órgão governamental tem sido muito questionado há dois anos, e seus indicadores já começam a mostrar em conta-gotas o impacto da crise global.
O descrédito do Indec faz com que muitos duvidem dos cálculos sobre pobreza na Argentina e afeta os interesses dos credores da dívida soberana do país, de US$ 127,5 bilhões.
Os analistas dão como certo que o governo peronista de Cristina perderá a maioria no Parlamento no pleito de amanhã.
Mas também preveem que o bloco governista Frente para a Vitória se manterá como a maior bancada, frente a uma oposição formada por alianças de conservadores com peronistas dissidentes e grupos de centro-esquerda aliados à União Cívica Radical, partido mais antigo do país.
A oposição denuncia manipulação dos indicadores econômicos oficiais, que no caso da inflação podem ser até três vezes menores que os de empresas de consultoria privada.
Desafios para Kirchner
Para o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), principal candidato governista, marido e antecessor de Cristina, as próximas eleições põem em xeque o retorno às políticas neoliberais da última década, que desembocaram na grave crise de 2001, quando a Argentina decretou moratória.
Em meio ao calor desse debate, o Indec assegurou na semana passada que a economia argentina cresceu 2% no primeiro trimestre.
Enquanto a oposição ironizava sobre o "otimismo" dos números oficiais, a imprensa econômica local comentou com sarcasmo que a Argentina "é o único" país do Grupo dos Vinte (G20, que reúne as nações mais ricas e as principais emergentes) que não entrou em recessão por culpa da crise global.
O governo de Cristina sustenta com todo rigor que este será o sétimo ano consecutivo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), embora a uma taxa menor a 8% na média registrada entre 2003 e 2008.
A maioria das empresas de consultoria privada assegura que o país já entrou em recessão, e calcula que o PIB sofrerá queda de 2% a 5% este ano.
O Indec sofre fortes críticas desde o início de 2007, quando durante a gestão de Néstor Kirchner mudou sua forma de medir a inflação.
O tema ainda provocou polêmicas com o Fundo Monetário Internacional (FMI), habitual alvo de denúncias do ex-presidente e de sua esposa.
Segundo estatísticas oficiais, o país registrou no ano passado inflação de 7,2%, três vezes menor que a calculada por empresas privadas.
Em março último, o Indec assegurou que até o fim de 2008 a pobreza afetava 3,75 milhões de pessoas, ou 15,3% da população.
No entanto, firmas de consultoria avaliam que a alta do custo de vida com seu impacto na cesta básica de alimentos e serviços leva o número de pessoas que vivem na pobreza a atingir dez milhões.
Economistas afirmam que a Argentina está longe de um novo colapso econômico, apesar de reforçarem a necessidade de que o governo ajuste gastos públicos.