A gestão João Doria (PSDB) decidiu adotar postura mais dura na relação com os vereadores da base aliada na Câmara Municipal. Nas últimas semanas, o governo desejava conseguir a aprovação do projeto de lei de privatização do Anhembi, mas todas as sessões foram derrubadas pelos parlamentares por falta de quórum. Nesta quinta-feira (30), novamente a sessão que decidiria a alienação do complexo foi derrubada pelos vereadores.
A prefeitura identificou no vereador Souza Santos (PRB) uma das lideranças da resistência à votação, ainda que ele faça parte da base aliada, que conta com cerca de 44 dos 55 membros da Câmara. Por isso, decidiu demitir nesta sexta-feira (1º) dois funcionários da prefeitura ligados a Souza Santos. São eles: Marcia Mendes, superintendente do serviço funerário; e Gilmar Souza Santos, secretário adjunto de Habitação e irmão do vereador.
Mário Corochel Neto, chefe de gabinete da prefeitura regional de Sapopemba, e Aguinaldo Firmino Junior, chefe de gabinete da prefeitura regional do Itaim Paulista, seriam próximos de outros vereadores do PRB, como Rinaldi Digilio, e também devem ser exonerados nos próximos dias.
A prefeitura coloca as exonerações como um recado aos vereadores aliados que não têm mostrado apoio aos projetos do Executivo, que gostaria de conseguir a aprovação da privatização do Anhembi até o final do ano.
A guinada mais agressiva na negociação com os vereadores coincide com a chegada do vice-prefeito Bruno Covas (PSDB) ao cargo de articulador político da gestão Doria, que aconteceu no começo de novembro, após sua saída da secretaria de Prefeituras Regionais.
Em visita à Câmara nesta semana, ele assumiu estratégia ousada e negociou com os parlamentares o direcionamento de 10% da verba arrecadada com a venda do Anhembi para projetos de vereadores nas áreas de saúde, educação, habitação, mobilidade, segurança e assistência social.
A rusga da prefeitura com o PRB também envolve a influência do partido no serviço funerário em São Paulo. Como tem grande número de nomeados no setor, o PRB tem feito pressão para que a concessão não aconteça. Até o momento, a gestão Doria nem ao menos protocolou o projeto de lei na Câmara, já que vinha evitando embate com o partido aliado. Diante da postura agressiva revelada pelas exonerações, o cenário pode mudar.
Em entrevista na terça-feira (28), Souza Santos disse ser favorável ao projeto de privatizações de Doria, inclusive para os cemitérios.
"O serviço funerário vem patinando há anos. Há uns três anos tinha 1.200 funcionários. Hoje são uns 800 e pouco, com o prefeito pedindo para diminuir para cortar custos. Não vejo com maus olhos que seja feita a concessão. Mas claro que somente se houver melhora do serviço", continua.
Além das divergências na Câmara, Doria tem encontrado resistência aos seus projetos de privatização no Tribunal de Contas do Município.
Os planos de privatização do Anhembi, de reforma de pontes nas marginais Tietê e Pinheiros e de concessão dos cemitérios, crematório e serviço funerário foram barrados pelo TCM nas etapas iniciais, antes mesmo da publicação de editais de licitação, pegando a prefeitura de surpresa. A prática do TCM tem gerado recepção dividida entre especialistas.
Mesmo que seja aprovado em segunda votação em breve, o projeto de lei de privatização do Anhembi foi "fatiado" em dois depois de pressão de vereadores, e a alienação só poderá acontecer depois de estudos sobre o zoneamento da região e a votação de outro projeto de lei para tratar especificamente dos dados levantados por esses estudos.
Após disputa no PSDB com seu padrinho político, Geraldo Alckmin, para a escolha do candidato do partido à Presidência da República no ano que vem, Doria acabou sofrendo desgastes –e não decolou nas pesquisas.
Agora, poderá tentar uma vaga ao governo de São Paulo –para isso, terá que sair do cargo antes do início de abril.
OUTRO LADO
Procurada, a assessoria de imprensa do partido disse que o PRB não vai se manifestar até se reunir com a bancada e posteriormente com o prefeito.
"O vereador Rinaldi Digiglio, do PRB, esclarece que desconhece as exonerações, sobre as quais não foi comunicado, até porque é prerrogativa do Executivo decidir quem contrata ou quem demite. O vereador ressalta, ainda, que em relação à votação de projetos do Executivo considerou uma afronta declarações dadas à imprensa por lideranças do governo insinuando uma espécie de acordo para aprovação de projetos de seu interesse em troca de emendas proporcionais a 10% do valor de venda do Anhembi. O vereador ressalta, ainda, que ao invés de tentar conseguir apoio oferecendo benesses, a prefeitura deveria discutir e debater amplamente seus projetos com a sociedade paulistana, que é a maior interessada nos atos da gestão pública", disse a assessoria de imprensa do parlamentar.