O linfoma da ministra e pré-candidata presidencial Dilma Rousseff foi tratado como segredo e pegou de surpresa os líderes do PT e da base aliada, mas já começa a atiçar as disputas internas por espaços e por nomes para a sucessão de 2010, principalmente no PMDB, o maior partido governista.
Segundo o presidente da sigla, Michel Temer (SP), o momento é de avaliação do quadro de saúde de Dilma: "Antes de mais nada, é preciso verificar a disposição dela de enfrentar a doença e a candidatura, compatibilizando as duas".
Temer, que não viu a entrevista da ministra sobre a doença, transmitida ao vivo pela TV, trabalha com duas hipóteses: "Vamos esperar para ver o tratamento. Se der resultado, como se espera, não haverá nenhum abalo [na candidatura]. Se o problema for maior, o que não se espera, isso pode modificar o quadro de candidaturas".
Ele não quis desenvolver o raciocínio, mas outros peemedebistas diziam ontem que a candidatura Dilma é "o ponto de referência" da sucessão, pois o presidente Lula só tem o nome da ministra. Sem esse "ponto de referência", dizem em condição de anonimato esses caciques, o PMDB vai lutar para ter a cabeça de chapa.
A análise é bastante precipitada, até porque o quadro de saúde da ministra não indica que ela tenha de abandonar a pretensão presidenciável, mas já evidencia o quanto a aliança governista é fragmentária e está em ebulição quando se trata de sucessão presidencial.
Isso tende a se aguçar com os congressos estaduais e por fim o congresso nacional do partido, quando os governadores, especialmente Sérgio Cabral (RJ), estarão em evidência.
Nos últimos meses, o nome de Cabral é citado como um eventual vice na chapa de Dilma no ano que vem. A ministra, que já declarou sua simpatia pela ideia de ser candidata e foi ungida como tal pelo presidente Lula, vinha participando de extensa agenda relacionada ao Programa de Aceleração do Crescimento, provável carro-chefe da campanha governista em 2010.
Apesar do impacto nos bastidores, as declarações formais de parlamentares aliados ao Planalto foram sempre no sentido de minimizar a doença e seus efeitos políticos.
O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), disse ter recebido somente ontem a notícia e elogiou a decisão da ministra de tornar pública a doença. Na opinião dele, o tratamento não provocará impacto na rotina de Dilma. "Pelo que soube, é algo que está sob controle", disse.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que está em Washington, afirmou que recebeu a notícia com "surpresa". Mas disse ter "certeza e segurança de que isso não vai afetar a vida política dela, não vai afetar a ação dela no governo".