A poucos meses de concluir seu mandato marcado por fraco crescimento do país e iniciando uma concorrida disputa para se reeleger, a presidente Dilma Rousseff mostrou otimismo sobre um novo ciclo de desenvolvimento e apostou na retomada da atividade econômica em entrevista à GloboNews exibida na noite da sexta-feira.
Para Dilma, esse novo ciclo estará centrado na competitividade e também em investimentos em infraestrutura, além de incluir um fortalecimento da educação e da inovação.
?É um ciclo que vai apostar na competitividade produtiva?, afirmou. ?Nós vamos ter de investir pesadamente em infraestrutura com parcerias público-privadas, só através do investimento privado --como é o caso das concessões-- ou com investimentos públicos. É uma combinação de tudo.?
As concessões foram uma aposta já de seu mandato atual, mas o governo enfrentou mais dificuldades do que imaginava e não conseguiu dar andamento a tudo que planejara.
Ainda assim, mesmo após o fracasso inicial do leilão da BR 262, para o qual não houve interessados, o governo conseguiu desde a metade do ano passado leiloar 6 lotes de rodovias . Também já foram concedidos à iniciativa privada 6 aeroportos, incluídos nesta lista os terminais de Guarulhos, em São Paulo, e do Galeão, no Rio de Janeiro.
Em outras áreas, porém, as concessões patinam, caso das ferrovias e dos portos, em que o governo ainda não conseguiu fazer nenhum leilão.
O governo também enfrenta dificuldades em relação à inflação, constantemente beirando o limite da meta do governo ?de 4,5 por cento mais 2 pontos percentuais no ano--, o que acabou levando o Banco Central a elevar os juros, depois de um esforço do governo para que a taxa básica Selic pudesse cair a mínimas históricas.
Isso tudo, para Dilma, não pode ser analisado sem que seja considerado o contexto da crise internacional.
?O que eu acho terrível no Brasil é que alguém possa supor que possamos ter um comportamento de crescimento econômico compatível com outro momento internacional?, disse, referindo-se à crise. ?Nós não somos uma ilha, esses efeitos nos atingem.?
A persistência da crise, argumentou a presidente, afetou o ritmo de crescimento da maioria das nações. Para os críticos da política econômica do governo, porém, parte do problema foi decorrente do fato de o governo ter insistido com remédios que foram perdendo sua eficácia, como os estímulos ao consumo.
Dilma acredita que o país está ?num processo de construção da retomada? e tem ?todas as condições para ter uma taxa de crescimento maior do que essa que nós temos nos últimos anos? e aposta na exploração de petróleo, principalmente o da camada do pré-sal, como um importante fator de impulso no médio e longo prazos.
A presidente ressaltou a boa situação do mercado de trabalho no Brasil, comparando as taxas de desemprego registradas em outros países com a criação de vagas aqui. Mas reconheceu que o ritmo de crescimento do emprego deve se estabilizar, "porque chegamos a um nível próximo do pleno emprego", disse.
Em diversos momentos da entrevista, Dilma não poupou críticas ao que considera um sentimento de pessimismo, creditando a ele, inclusive, parte do fraco desempenho da economia.
?Ninguém, em nenhum país do mundo, consegue manter um crescimento efetivo com um estímulo sistemático --e eu não sei a que interesses isso beneficia-- de que vai haver uma crise?, afirmou.
A presidente também rebateu as críticas às ações do governo sobre o setor elétrico. Segundo ela, não há chance de haver um apagão.
?Racionamento de energia não vai ter. Nós fizemos um planejamento, garantimos a expansão?, disse a presidente, justificando ainda que o uso de termelétricas, algo que encarece o preço final da energia, é necessário quando há poucas chuvas e está previsto no sistema energético brasileiro.
Pouco explorado durante todo seu mandato, a presidente também voltou suas atenções para um problema que assola o país ao longo de sua história: a burocracia. Abordado em seu discurso de lançamento da candidatura à reeleição, Dilma voltou ao tema na entrevista, reforçando o destaque que deverá ter durante sua campanha eleitoral.