A presidente Dilma Rousseff aproveitou um encontro com artistas e intelectuais, nessa quinta-feira (31), em Brasília, para novamente se defender da acusação de pedaladas fiscais, mas agora dando mais detalhes de sua defesa.
As chamadas "pedaladas fiscais" (prática adotada por governos para financiar alguns programas com dinheiro de bancos públicos, atrasando o repasse dos recursos necessários para cobrir essas despesas) são justamente um dos argumentos da oposição, que tenta provocar o impeachment.
"Meu impeachment baseado nisso (pedaladas fiscais) significa que todos os governos anteriores ao meu teriam que ter sofrido impeachment. Porque todos, sem exceção, praticaram atos iguais aos que eu pratiquei, e com respaldo legal", afirmou, deixando claro seu posicionamento: nem ela e nem os antecessores mereciam sofrer impeachment.
Na última terça-feira (29), o PMDB anunciou a sua saída do governo o que enfraqueceu o governo de Dilma e aumentou o risco da presidente sofrer um impeachment.
Ao longo de seu discurso, Dilma criticou ainda os boatos após a eleição de 2014, que pediram recontagem de votos e criticaram as urnas eletrônicas. Depois, citou indiretamente Eduardo Cunha (presidente do Congresso) e seu pedido de impeachment. "O que a Constituição não autoriza é, porque alguém o quer, ou porque interessa à oposição ou setores que vão se beneficiar dele", afirmou, defendendo os processos sociais e as medidas econômicas - inclusive as chamadas pedaladas fiscais.
"Qualquer jurista responsável responderá à pergunta 'o impeachment está previsto na Constituição' com um sonoro sim. Mas qualquer jurista bem-intencionado responderá: 'é possível um impeachment sem base em crime de responsabilidade?', a resposta será um não. Um sim e um não", acrescentou
Segundo ela, oposicionistas "estão tentando dar um colorido democrático a um golpe".
A presidente relembrou a queda da inflação nos governos do PT e o "esforço para, mesmo fazendo reduções nos nossos gastos, preservar todos os nossos programas sociais", referindo-se ao lançamento na véspera da terceira fase do Minha Casa, Minha Vida.
Além disso, lembrou a necessidade de estabilidade política e do fim do ódio, "para que esse país não sofra as consequências de uma ruptura entre seus habitantes".
No evento, Dilma recebeu diversos discursos de apoio e, em seu discurso, lembrou também da época em que foi presa pelo regime militar e citou uma personagem do filme "Que horas ela volta".
"Todos aqui têm distintas filiações partidárias, muitos deles não as têm, e outros têm inclusive posições contrárias ao governo. Muitos nem mesmo votaram em mim. Não inteiram os 54 milhões que votaram em mim. Isso não tem a menor importância. O que tem importância é que todos votaram nas eleições, participaram do processo democrático", discursou, aplaudida de pé aos convidados.
Dilma ainda falou sobre as Jéssicas "homens e mulheres" para qual ela faz o seu governo. Jéssica (interpretado por Camila Márdilla) é uma personagem do filme "Que horas ela volta", que é filha de Val (Regina Casé) e que deixa a sua casa no Nordeste (e com um filho) para estudar em uma universidade em São Paulo.
Nomes como Letícia Sabatella, Beth Carvalho, Antonio Pitanga, Elisa Lucinda, Emir Sader, Tássia Camago, Raduan Nassar, Flávio Renegado, Sérgio Mamberti, Anna Muylaert, Aderbral Freire Filho, Osmar Prado compareceram ao evento em Brasília.
"Estou voltando aqui para dar apoio à presente neste momento difícil, com o orgulho de saber que no ano passado o filme mais importante feito aqui foi feito por uma mulher e do ponto de vista da mulher. É um filme de separatismo social, da cozinha para a sala, mas também o filme de uma mãe", disse Muylaert, referindo-se à película Que horas ela volta?, da própria diretora.