A Direção Nacional do PT aprovou ontem uma resolução que tem grandes chances de virar letra morta. A decisão de recomendar a não realização de prévias entre pré-candidatos ao Senado e ao governo estadual foi direcionada para Pernambuco, Mato Grosso, Minas Gerais, Distrito Federal e Rio de Janeiro. Em pelo menos três, a disputa entre os petistas está tão acirrada que a única solução enxergada pelos dirigentes é a prévia, que a cúpula da legenda quer evitar para não contaminar a campanha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
O texto classifica as consultas internas de ?inconvenientes e politicamente inoportunas?, mas DF, Minas e Rio não pretendem seguir a orientação. ?Todas as prévias sempre são acompanhadas de campanhas que podem acirrar os ânimos e deixar sequelas?, afirmou o presidente do PT, José Eduardo Dutra. ?Mas, no limite, não conseguindo que ambos concordem, faz-se a prévia?, emendou o dirigente.
O deputado Geraldo Magela (PT-DF) entrou na disputa contra o ex-ministro Agnelo Queiroz pelo governo do DF e forçou a realização da consulta interna, marcada para o dia 21. No Rio de Janeiro, nem o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, nem a secretária estadual de Assistência Social, Benedita da Silva, dão sinais de que podem abrir mão em prol do outro e a prévia será no dia 28 deste mês.
Constrangida
Em Minas Gerais, o diretório estadual aprovou a realização da prévia entre o ministro de Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. ?Mas lá a questão está longe de um acordo?, disse Dutra, lembrando que o impasse passa também pela aliança nacional com o PMDB (leia mais na página 5). A questão está encaminhada apenas em Pernambuco, onde o ex-ministro Humberto Costa e o ex-prefeito de Recife João Paulo Lima e Silva concordaram com termos de um pré-acordo e em levar a questão, em última instância, para a decisão de Dilma. ?Acho que se houver prévia em algum lugar, ela será bastante constrangida?, disse João Paulo.
» Acordo distante
O prefeito de Nova Iguaçu (RJ), Lindberg Farias, deu um ultimato à secretária estadual de Assistência Social, Benedita da Silva, na disputa pela indicação à vaga ao Senado. Diante do improvável acordo, ele estabeleceu a próxima segunda-feira como o prazo para a adversária e correligionária. Caso contrário, a cúpula estadual marcará prévias para 28 de março para escolher quem representará o PT na eleição.
A secretária disse que a única saída é a consulta interna por se tratar de um acordo improvável. Nenhum dos dois quer abrir mão. ?Temos até 6 de junho para apresentar uma solução diante da impossibilidade de acordo?, afirmou Benedita. Contrário às prévias, Lindberg disse que a solução precisa ser agilizada porque os dois têm o prazo de 2 de abril para se desincompatibilizarem dos cargos e ficarem aptos à eleição. Se não concorrer ao Senado, o prefeito continuará em Nova Iguaçu.
Ameno
O clima em Pernambuco é mais ameno e caminha para um acordo entre o ex-prefeito de Recife, João Paulo Lima e Silva, e o ex-ministro Humberto Costa. Os dois participaram ontem de um encontro com o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e acertaram um cronograma de consultas com os partidos aliados, pesquisas de intenção de votos e a chancela da ministra Dilma e do presidente Lula.
Em Mato Grosso, deve haver acordo de mão forte. O deputado Carlos Abicalil, que controla o partido, deve impor sua candidatura contra a senadora Serys Slhessarenko, evitando a consulta entre os filiados. Com o clima incerto nos estados, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) inscreveu-se para disputar o governo de São Paulo e abre a possibilidade de prévias. O presidente Lula já avisou que, sem a possibilidade de o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) disputar, o candidato será o senador Aloizio Mercadante. A ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, que seria lançada ao Senado, minimizou as fricções internas.