O deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, vive momentos de expectativa: o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve analisar nas próximas semanas o pedido de registro de seu novo partido, o Solidariedade. Se tudo der certo, a sigla poderá disputar as eleições de 2014. Antes disso, porém, Paulinho e seus aliados terão de responder a uma grave acusação: a de ter contado com o apoio do poderoso sindicato que representa servidores do Legislativo para falsificar assinaturas e os 491.000 apoios necessárias para a formalização da legenda.
De acordo com a denúncia em poder do Ministério Público do Distrito Federal, três funcionárias do gabinete do deputado participaram do processo de falsificação: Francisca Gleivani Gomes Silva, Mariana de Castro Moreira e Wandernádia Chaves de Lacerda. Entre março e abril deste ano, elas bateram ponto em um escritório no centro de Brasília. A tarefa: preencher as fichas de apoio com base nos dados de funcionários do Legislativo, fornecidos pelo sindicato. O presidente do Sindilegis, Nilson Rodrigues Júnior, é aliado de Paulinho e apontado como futuro presidente do Solidariedade no Distrito Federal.
As irregularidades foram notadas por Sueli Celestino da Silva Marcelino, funcionária de um cartório eleitoral de Brasília. Ela percebeu que havia disparidade entre as assinaturas constantes nas fichas do Solidariedade e no banco de dados da Justiça Eleitoral. Sueli entrou em contato com alguns dos supostos autores das assinaturas. Todos negaram que tivessem declarado apoio à sigla de Paulinho.
O consultor legislativo Paulo Afonso é um dos servidores que tiveram o nome usado de forma indevida: "As pessoas não assinaram. Pegaram os nomes e usaram de forma errada. Eu não tenho nada a ver com isso [com a criação do partido]", diz ele. Magno Antonio Correia de Mello, ex-diretor do próprio Sindilegis, ajudou a denunciar o esquema e confirma: o Sindilegis foi usado para favorecer a sigla de Paulinho.
Dossiê ? O caso chegou à mesa do juiz eleitoral Enilton Alves Fernandes, que, por sua vez, enviou o dossiê ao promotor eleitoral Mauro Faria de Lima ? que decidiu pedir que a Polícia Federal (PF) abra inquérito para apurar a existência do crime de falsificação de documento.
O promotor, que também integra a Procuradoria Eleitoral de Brasília, estuda solicitar a suspensão do processo de criação do partido. A suspeita é de que o uso da máquina sindical para fraudar as listas de apoio ao Solidariedade esteja se repetindo em outros locais. O advogado do Solidariedade, Tiago Cedraz, é o mesmo do Sindilegis.
Resposta ? A assessoria do Sindilegis afirma que a história é falsa. De acordo com o sindicato, as fichas de filiação não possuem o nome da mãe nem o número do titulo de eleitor, informações essenciais para o preenchimento das fichas de apoio à criação de partido.
Ainda de acordo com a assessoria, o presidente do sindicato não tem qualquer participação no processo de criação do Solidariedade ? apesar de ter assinado uma das fichas de apoio. O sindicalista reconhece, entretanto, manter proximidade com Paulinho da Força.
O deputado, que também não esconde sua ligação com o sindicalista, não atendeu as ligações do site de VEJA.
Solidariedade ? Encabeçado pelo deputado Paulinho Pereira (PDT-SP), presidente da Força Sindical, o Solidariedade corre contra o tempo: para disputar as eleições do ano que vem, tem até o começo de outubro para cumprir os trâmites burocráticos e sair do papel.
O primeiro passo já foi dado. Em junho, o parlamentar entrou com o pedido de registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na ocasião, foram apresentadas mais de 500 000 assinaturas de apoio. O passo seguinte é justamente a análise do Ministério Público Eleitoral sobre a veracidade das assinaturas e a votação no plenário do tribunal.
O Solidariedade surge como um partido de oposição ao governo federal e conta com o apoio de legendas que tentam derrotar a presidente Dilma Rousseff no pleito de 2014. Na reta final de consolidação do partido, Paulinho da Força tem intensificado o diálogo com políticos insatisfeitos ? entre eles, o governador do Ceará, Cid Gomes ? e também com possíveis parlamentares que cogitam mudar de partido.