O grupo majoritário da CPI da Covid decidiu nesta terça-feira (12) alterar o cronograma para os últimos dias de trabalho da comissão. Senadores anunciaram a desistência de ouvir o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que seria o último depoente a falar à comissão. A audiência do ministro estava prevista para a próxima segunda-feira (18).
No lugar, a CPI pretende convocar o médico Carlos Carvalho, responsável por coordenar um estudo com parecer contrário ao uso dos remédios do chamado "kit Covid" no combate ao coronavírus. Os remédios, propagandeados pelo presidente Jair Bolsonaro ao longo de toda a pandemia, são comprovadamente ineficazes para a doença.
A oitiva de Carvalho ainda não foi aprovada. A comissão deve realizar uma sessão extraordinária na próxima sexta-feira (15) para votar o requerimento de convocação do médico.
Nos bastidores, aos menos três senadores da CPI já tiveram uma conversa informal com o médico Carlos Carvalho em busca de entender melhor as conclusões do estudo sobre o uso do chamado “Kit Covid”. A avaliação foi a de que o depoimento dele seria mais importante que o de Queiroga e servirá para dar uma “sentença final” sobre a prescrição de determinados remédios para o enfrentamento à doença.
“Pela conversa que tivemos com o Dr. Carlos, nós julgamos que o depoimento dele é o mais importante. Vai botar uma pedra em definitivo nesse assunto, e ele tem uma posição muito contundente contra a cloroquina. Além do mais, o depoimento dele tornará público o que a Conitec tem de resolver”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Senadores também decidiram realizar na próxima segunda-feira (18) uma audiência com entidades que representam familiares de vítimas da Covid. Esse será o último ato da comissão antes da apresentação e da votação do parecer final.
Com a mudança, o cronograma da CPI passa a ser:
Segunda-feira (18)
- Dr. Carlos Carvalho
- Parentes de vítimas
Terça-feira (19)
- Leitura do relatório
Quarta-feira (20)
- Votação do relatório
Conitec
A decisão de ouvir Carlos Carvalho foi tomada após a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) retirar de pauta, na semana passada, a análise do estudo que desaconselha o uso do chamado “Kit Covid”, composto também por remédios como a ivermectina e a azitromicina, todos ineficazes.
A Conitec, um órgão consultivo do Ministério da Saúde, tem entre suas atribuições a incorporação e a exclusão de novos medicamentos em protocolos do Sistema Único de Saúde (SUS).
Senadores que integram a CPI viram o adiamento como uma manobra determinada pelo presidente Jair Bolsonaro. A intenção da comissão, como mostrou o blog da Ana Flor, é não encerrar os trabalhos sem que haja um posicionamento científico que desaconselhe o uso da medicação pelo SUS.
Sobre a retirada do estudo da pauta da Conitec, o Ministério da Saúde informou que a solicitação teria sido feita pelos próprios autores da análise, diante do surgimento de novas informações sobre outros medicamentos que estariam sendo defendidos.
A retirada teria como motivo, segundo o ministério, atualizar o estudo antes que ele fosse analisado pela Conitec.
O que diz o estudo
O estudo da Conitec, chamado Diretrizes Brasileiras para Tratamento Medicamentoso Ambulatorial do Paciente com Covid-19, tem 126 páginas e considerou dados de diferentes órgãos nacionais e internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e a Associação Médica Brasileira (AMB). Também são consideradas diretrizes australianas e alemãs.
O parecer diz que há “incertezas” sobre o benefício de remédios como ivermectina e nitazoxanida, “não sendo atualmente indicados no tratamento ambulatorial da Covid-19”.
Por sua vez, diz o relatório, “azitromicina e hidroxicloroquina não mostraram benefício clínico e, portanto, não devem ser utilizados no tratamento ambulatorial de pacientes com suspeita ou diagnóstico de Covid".
O documento também sugere a não utilização de anticoagulantes em pacientes com suspeita ou diagnóstico de Covid, por considerar que “não há benefício demonstrado com o uso de anticoagulantes em pacientes com Covid.
“Adicionalmente, a anticoagulação está associada a aumento do risco de eventos hemorrágicos. Isso pode ser ainda mais desafiador no contexto ambulatorial, no qual por vezes não é factível um acompanhamento mais próximo para minimizar riscos da anticoagulação”, registra o parecer.