Comissão do governo de Honduras vai aos EUA

Os confrontos deixaram ao menos dois mortos e dez feridos

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Representantes do novo governo de Honduras viajaram nesta segunda-feira aos Estados Unidos para iniciar um diálogo com os países da OEA (Organização dos Estados Americanos) sobre a crise política causada pela deposição do presidente eleito, Manuel Zelaya. O esforço visa reverter o isolamento do governo interino de Honduras, que foi suspensa da OEA neste fim de semana por negar a restituição de Zelaya ao poder.

Fontes oficiais confirmaram a viagem da comissão, mas não precisaram quem faz parte do grupo, nem detalharam a agenda deles na capital americana. Segundo a imprensa local, entre os membros da comissão, estão os ex-chanceleres hondurenhos Guillermo Pérez-Cadalso e Leónidas Rosa Bautista, e o candidato presidencial da Democracia Cristã para as eleições de novembro, Felicito Ávila.

A comissão viajou em um avião particular do aeroporto de Tegucigalpa, capital de Honduras, que foi fechado para voos regulares por 48 horas após os incidentes deste domingo entre as forças de segurança e simpatizantes que aguardavam a chegada de Zelaya. Os confrontos deixaram ao menos dois mortos e dez feridos, segundo o novo chanceler hondurenho, Enrique Ortez, que culpou os próprios manifestantes pelas mortes.

O embaixador de Honduras nos Estados Unidos, Roberto Flores Bermúdez, confirmou nesta segunda-feira à rádio HRN de Tegucigalpa que a OEA deu "uma resposta positiva" à proposta de diálogo feita no domingo pelo presidente da Corte Suprema de Justiça de Honduras, Jorge Rivera.

Flores Bermúdez disse que ele se juntará à comissão, mas não precisou quem são os outros integrantes, e ressaltou que as vias do diálogo "estão abertas".

O diálogo seria entre representantes dos "poderes do Estado de Honduras e uma delegação de representantes de Estados-membros da OEA, junto com funcionários de menor categoria da Secretaria-Geral" desse organismo, segundo a proposta enviada no domingo pelo presidente do Supremo hondurenho ao representante da OEA em Tegucigalpa, Jorge Miranda.

A carta indicou que, "após as conversas alcançarem o nível apropriado, a Secretaria-Geral elevaria a categoria de sua representação".

"Enquanto o diálogo de boa fé estiver em curso, não haverá atos ou situações que possam colocar em perigo a paz social da República e comprometer o esforço nas conversas", afirmou a nota.

O governo do presidente Roberto Micheletti, que substituiu Zelaya após a deposição, propôs o diálogo horas depois de a OEA suspender Honduras por se negar a reinstalar no poder o deposto líder.

Micheletti não é reconhecido pela comunidade internacional, enquanto a OEA, segundo a resolução do domingo, continuará as gestões diplomáticas para resolver a crise em Honduras.

Zelaya

Paralelamente ao encontro com autoridades do novo governo, uma autoridade americana citada pela agência de notícias Reuters afirma que a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, deve se reunir com o presidente eleito Zelaya, em Washington, nesta terça-feira.

O encontro seria um importante gesto de apoio a Zelaya, que foi deposto do poder por tropas e mandado para o exílio na Costa Rica em 28 de junho, em um golpe que teve como causa principal a intenção de Zelaya de mudar a Constituição para buscar a reeleição.

Em separado, o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano Ian Kelly reiterou o pedido do governo dos EUA para que Zelaya seja reposto no poder.

"Nosso objetivo continua sendo a restauração da ordem democrática em Honduras, e nós renovamos nosso pedido aos atores políticos e sociais em Honduras para que encontrem uma solução pacífica para esta crise", disse ele a repórteres.

Perguntado o que significaria restaurar a ordem democrática, Kelly respondeu: "isso significa o retorno do presidente eleito democraticamente a Tegucigalpa, o retorno de Zelaya."

Mortes

O chanceler Ortez, confirmou nesta segunda-feira a morte de duas pessoas em confronto entre a polícia e manifestantes. O chanceler afirmou ainda que a polícia "não fez nenhum disparo" e culpou os próprios manifestantes pelas mortes.

Neste domingo, centenas de manifestantes se reuniram no aeroporto internacional de Tegucigalpa, capital de Honduras, para aguardar o avião Falcón, de propriedade venezuelana, que trazia Zelaya de volta ao país. O governo interino, contudo, ordenou que o Exército ocupasse as pistas do aeroporto e impedisse a decolagem da aeronave, que foi obrigada a retornar para Nicarágua.

Em entrevista à rádio Cooperativa de Santiago, no Chile, ele afirmou nesta segunda-feira que os disparos efetuados durante os confrontos vieram dos próprios "oposicionistas".

"Não há nenhuma responsabilidade das forças de segurança", afirmou o chanceler do governo do presidente interino, Roberto Micheletti. Segundo Ortez, os protestos deixaram ainda dez feridos.

Ortez afirmou ainda que "tudo está em ordem" em seu país, onde o toque de recolher foi estendido em uma tentativa de conter os protestos pró-Zelaya.

"Zelaya foi presidente (...) e não vai entrar no território. Porque eles tinham um plano, até onde sei eu, que era aterrissar em terra hondurenha, fazer uma chamada à comunidade internacional e pedir que as Forças Armadas da Venezuela entrassem no país", acrescentou.

Ortez acrescentou que essa situação teria levado a uma "confusão muito grande" em seu país. "Teríamos tido que recorrer às armas para defender a soberania nacional", advertiu.

Ortez afirma ainda que há fotos aéreas que provam que o Exército da Nicarágua fez mobilizações na fronteira, mas, após uma solicitação "cordial", interromperam esses movimentos. O governo e o Exército da Nicarágua negaram a mobilização.

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