Comissão aprova PEC que concede benefícios sociais em ano eleitoral

Texto prevê, só em 2022, Auxílio Brasil maior e 'voucher' a caminhoneiros. Câmara tem adotado medidas para acelerar tramitação da proposta.

Comissão aprova PEC que concede benefícios sociais em ano eleitoral | Reprodução
Siga-nos no Seguir MeioNews no Google News

Uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira (7) a proposta de emenda à Constituição (PEC) que concede uma série de benefícios sociais às vésperas das eleições e somente para este ano.

Entre outros pontos, a PEC, discutida a menos de três meses das eleições, aumenta o valor do Auxílio Brasil, amplia o Vale-Gás e cria um "voucher" para caminhoneiros. Os benefícios acabam em dezembro deste ano.

Comissão aprova PEC que concede benefícios sociais em ano eleitoral

Leia Mais

Em um primeiro momento, os deputados analisaram o chamado texto-base da PEC e o aprovaram por 36 votos a 1. Em seguida, passaram à votação dos destaques, isto é, propostas que buscavam modificar a redação original. Todos foram rejeitados, e agora o texto segue para o plenário da Câmara.

A PEC é patrocinada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. No Senado, foi aprovada com os votos favoráveis de parlamentares da base e da oposição. Na Câmara, a oposição vem dizendo que vai tentar obstruir a votação, mas que não é contra o que está previsto no texto.

A proposta vem sendo chamada de "PEC Kamikaze" porque custará R$ 41,2 bilhões aos cofres públicos em um momento de crise econômica mundial e de fragilidade das contas do governo.

O que prevê a PEC?

A PEC estabelece estado de emergência em 2022, em razão da "elevação extraordinária e imprevisível dos preços do petróleo, combustíveis e seus derivados e dos impactos sociais deles decorrentes".

Com isso, abre caminho para uma série de benefícios. Veja abaixo:

Auxílio Brasil: ampliação de R$ 400 para R$ 600 mensais e previsão e cadastro de 1,6 milhão de novas famílias no programa (custo estimado: R$ 26 bilhões);

Caminhoneiros autônomos: criação de um "voucher" de R$ 1 mil (custo estimado: R$ 5,4 bilhões);

Auxílio-Gás: ampliação de R$ 53 para o valor de um botijão a cada dois meses — o preço médio atual do botijão de 13 quilos, segundo a ANP, é de R$ 112,60 (custo estimado: R$ 1,05 bilhão);

Transporte gratuito de idosos: compensação aos estados para atender a gratuidade, já prevista em lei, do transporte público de idosos (custo estimado: R$ 2,5 bilhões);

Taxistas: benefícios para taxistas devidamente registrados até 31 de maio de 2022 (custo estimado: R$ 2 bilhões);

Alimenta Brasil: repasse de R$ 500 milhões ao programa Alimenta Brasil, que prevê a compra de alimentos produzidos por agricultores familiares e distribuição a famílias em insegurança alimentar, entre outras destinações;

Etanol: Repasse de até R$ 3,8 bilhões, por meio de créditos tributários, para a manutenção da competitividade do etanol sobre a gasolina.

Tramitação acelerada

Aliado do presidente Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), articulou com aliados medidas para acelerar a tramitação da PEC, entre as quais:

anexar a PEC a uma outra proposta de emenda que já havia passado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Com isso, o texto pulou uma etapa e já foi para análise em comissão especial;

convocar uma sessão extraordinária na manhã desta quinta com o objetivo de ajudar na contagem do prazo de duas sessões para a votação do texto na comissão especial;

manter o texto aprovado no Senado. Isso porque, caso o teor fosse modificado, a PEC precisaria voltar para uma nova análise dos senadores, o que atrasaria a promulgação e o pagamento dos benefícios patrocinados pelo governo.

Como foi a sessão da comissão

A oposição, que se diz favorável aos benefícios, mas contra a PEC, obstruiu a votação desta quinta-feira. O argumento é que a proposta exige mais tempo de tramitação e aprofundamento das discussões sobre o texto.

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP), por exemplo, disse que a pressa dos parlamentares da base do governo impediu que a proposta fosse aperfeiçoada.

"Os deputados têm pressa aqui porque querem sair para o recesso, mas não tiveram pressa para atender ao povo quando começou a aumentar o preço dos combustíveis, quando 33 milhões de pessoas estão passando fome", afirmou.

A deputada Joenia Wapichana (Rede-RR), por sua vez, destacou que, embora a proposta possa ajudar no enfrentamento à crise e à necessidade de o povo ter segurança alimentar, o objetivo da PEC é ajudar o presidente Jair Bolsonaro. Apesar disso, disse que não era possível votar contra o texto.

O deputado capitão Alberto Neto (PL-AM), da base do governo, defendeu a proposta. Disse que "quem tem fome, tem pressa" e o governo acertou ao articular a PEC.

"Neste momento de crise mundial, guerra da Rússia contra a Ucrânia, falta de alimentos, falta de combustíveis, estamos pegando recursos dos brasileiros e levando aos brasileiros mais carentes", afirmou.

Incentivo aos biocombustíveis

A PEC foi incorporada a outra, conhecida como PEC dos Biocombustíveis, também já aprovada no Senado e que tramitava há mais tempo na Câmara.

Com isso, o relatório do deputado Danilo Forte (União-CE) também incorpora na Constituição um dispositivo que garante uma diferença tributária entre combustíveis fósseis, como a gasolina, e os biocombustíveis, como o etanol.

A incorporação foi uma manobra de Lira para acelerar o pagamento dos benefícios, fazendo com que a PEC dos benefícios não precisasse passar, por exemplo, pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara.

O objetivo da PEC dos biocombustíveis é manter uma vantagem fiscal e uma tributação menor aos biocombustíveis por um período de pelo menos 20 anos.

A medida é vista como uma forma de garantir a competitividade do etanol e outros combustíveis “limpos” em relação a combustíveis fósseis. O texto insere na Constituição a determinação de um “regime fiscal favorecido” a esses combustíveis.

As alíquotas que garantirão a diferenciação serão determinadas por meio de uma lei complementar que será votada em outro momento.

Com a alteração na Constituição, fica assegurada a manutenção da diferença, em termos percentuais, entre as alíquotas aplicáveis aos combustíveis fósseis e aos biocombustíveis. Ou seja, uma eventual alteração das alíquotas será acompanhada da mudança tributária aplicada também ao etanol, de modo a garantir a vantagem ao biocombustível.

Carregue mais
Veja Também
Tópicos
SEÇÕES