A campanha da pré-candidata do PT ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff, quer colocar a senadora Marina Silva, sua adversária pelo PV, na geladeira. Com estratégia toda voltada para a polarização com o tucano José Serra, a ordem é desqualificar a gestão dela, entre 2003 e maio de 2008, no Ministério do Meio Ambiente.
Dentro do PT e do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a avaliação é que Marina tem um teto de 10% que tende a se desmanchar à medida que a campanha pegar fogo. E não é só. Pesquisas internas indicam que Marina não compete com a petista ao atingir um eleitorado insatisfeito com o governo. Por consequência, não votaria em Dilma. Essa lógica é a inversa da fomentada pelos tucanos que apostam em Marina para servir como uma âncora contrária ao crescimento da pré-candidata petista.
O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse não sobrar espaço para Marina no debate entre Dilma e Serra. ?Toda eleição é plebiscitária. Veja o exemplo do Rio Grande do Sul, lá é para saber quem é mais contra a governadora Yeda Crusius (PSDB). Aqui também, só que os tucanos estão tentando fugir da pecha do anti-Lula, mas é isso que o Serra é?, afirmou Vaccarezza.
?Retórica ótima?
Mesmo espremida, Marina terá atenção, até porque não se pode fazer, como os próprios governistas comentam, uma campanha no Olimpo sem olhar os adversários. A ideia é tentar questionar a eficácia da senadora no comando do Ministério do Meio Ambiente. ?Ela tem uma retórica ótima, mas fica só nisso, a pasta só melhorou a partir da saída da Marina do governo?, comentou um interlocutor do presidente.
Os dados sobre desmatamento são martelados por governistas e petistas envolvidos na campanha. Em maio de 2008, quando Marina saiu do governo, o desmatamento da Amazônia ficou em 1.123 km². Em janeiro e fevereiro deste ano, 208,2 km².
A senadora também enfrentou recente polêmica com o movimento gay. Instada a comentar direitos dos grupos homossexuais, Marina disse respeitá-los, mas que, diante de sua consciência cristã, não poderia defender a união civil entre pessoas do mesmo sexo. A senadora absorveu um componente conservador que pode espantar tradicionais eleitores do PV. Políticos ligados a Dilma dizem que esse é o menor dos problemas dela, lembrando que a média do eleitorado brasileiro é pragmática e conservadora, diferente do entusiasta do PV.
A estratégia de ataque da campanha de Dilma ganhará reforço a partir de segunda-feira, quando será instalado o conselho político formado por presidentes dos partidos que apoiam a petista. A ex-ministra vai se reunir depois com líderes da base aliada em jantar na residência do deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE), em Brasília. ?É um grupo de trabalho para ver o que é preciso fazer pela campanha, com discussões políticas e engajamento das pessoas?, afirmou Vaccarezza.