José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

Lista de Colunas

Exclusivo Transparência Brasil mostra R$ 8,5 bi de emendas enviados a municípios de modo obscuro

O dado traz uma constatação absurda no terreno dos gastos públicos e das práticas reprováveis do nosso atual Legislativo

Um relatório que acaba de vir ao conhecimento público, por obra da ONG Transparência Brasil, traz uma constatação absurda, revoltante, no terreno dos gastos públicos e das práticas reprováveis do nosso atual legislativo. De uma soma de mais de R$ 22 bilhões distribuídos por deputados e senadores com as cidades brasileiras através das emendas individuais, na forma de PIX, em 2023 e 2024, o impressionante montante de R$ 8,5 bilhões caiu nesses municípios sem qualquer transparência.

Isso significa que todo esse volume de dinheiro foi para as prefeituras indicadas por deputados e senadores sem obrigatoriedade de conhecimento de vínculo sobre qualquer projeto específico e até mesmo sem a identificação do parlamentar que determinou a liberação, porque feito em nome de comissão.

As emendas individuais têm execução orçamentária (empenho e liquidação) e financeira (pagamento) obrigatórias, não podendo ao Governo Federal recusar-se ao cumprimento.

Nesse caso levantado pela Transparência Brasil, dos R$ 8,3 bilhões remetidos pelos parlamentares às cidades mais pobres do país (aquelas com IDH considerado baixo ou muito baixo), quase metade do total (47%), mais exatamente R$ 3,9 bilhões, foram transferidos via emendas PIX, desobrigadas de transparência. Dos recursos enviados às cidades mais ricas, somando R$ 14,6 bilhões, os valores transferidos via Pix (sem transpararência) foram da ordem de R$ 4,6 bilhões.

O documento mostra que se criou uma cultura escandalosa no país, ancorada pela Câmara e pelo Senado,  pela qual os municípios menores ou com menos estrutura buscam essa modalidade de repasse federal, por ser mais rápida, sem necessidade de projeto prévio e livre de maior fiscalização. No caso de emendas com finalidade definida, obrigatória, forma-se um processo  obrigando  seja o projeto aprovado e tenha como obrigação a apresentação de relatórios de execução, correndo-se ainda o risco de reprovação por alguma ocorrência de erro técnico.

No caso da emenda PIX, basta apenas a Prefeitura informar "ciente", indicar o banco e a conta, e daí o dinheiro vai direto para o caixa,  E se isso faz o gosto de gestores públicos municipais, também é de muito agrado para os parlamentares, pois suas ações chegam muito mais ligeiramente aos seus eleitores. De 2020 em diante o uso indiscriminado desse tipo de emenda cresceu de forma espantosa, transformando-se na principal ferramenta de poder de deputados e senadores, sendo usadas como moeda de troca entre parlamentares e o governo passado, e permanecendo como massa de manobra e pressão sobre o atual governo federal.

Criada em 2019, sob a gestão de Jair Bolsonaro, através de emenda constitucional, a emenda pix tinha como justificativa a lentidão e a burocracia na liberação de recursos aos municípios por parte do poder central. 

 Nunca se falou que a maioria das cidades brasileiras, grandes ou pequenas, têm um baixo nível de transparência, facilitando as práticas de desvios de recursos públicos e a instalação e progressão de corrupção nociva, danosa e vergonhosa que está sendo investigada pelo STF, sob o controle do ministro Flávio Dino, sobretudo diante do estrondoso crescimento dessas emendas durante as eleições municipais de 2024.

O trabalho corajoso do ministro Flávio Dino, que tem sido motivo da ira e da desqualificação de parlamentares e integrantes do governo passado, tem contado com a colaboração do mInistério Público Federal, que já instaurou procedimentos de monitoramento sobre esses recursos enviados em mais de 400 municípios. Há, inclusive, a indicação de que dos 5.565 municípios levantados, pelo menos 111 de suas Prefeituras receberam 100% de suas emendas individuais através da modalidade PIX.

O trabalho que Flávio Dino esmiunça no STF sobre as emendas parlamentares têm causado muito barulho e contrariado a cúpula de Câmara e Senado, desde que o ministro determinou proibição ao Governo de repessar recursos rotulados por esse mecanismo, levando mesmo a um embate acalorado entre Arthur Lira, que presidia a Câmara, e Rodrigo Pacheco, o Senado. 

Agora, os novos dirigentes das duas Casas já manifestaram publicamente que vão procurar o STF para esclarecer a questão, desejosos, conforme eles, de criar sistema mais transparente e honesto.

*** As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.
Carregue mais
Veja Também
Tópicos
logo do meio.com