As grandes descobertas científicas têm-se revelado ao longo da história fundamentais para a saúde humana, solucionando deficiências, prevenindo doenças, permitindo diagnósticos precoces e tratamentos eficazes, enfim, alongando e suavizando a vida.
Do século passado para cá, a humanidade foi presenteada com os antibióticos, com vacinas e transplantes de órgãos, com a definição da estrutura do DNA e do Genoma Humano, possibilitando o mapeamento dos genes do corpo humano, inaugurando, assim, uma série de descobertas salvadoras que têm trazido benefícios que em séculos anteriores mal se imaginava.
Agora mesmo, quando têm sido raras essas invenções salvadoras e o mundo se defronta com notícias desagradáveis e retrocessos indesejáveis vindos de muitos segmentos e de várias partes do mundo, chega um anúncio formidável, que retrata uma tecnologia extraordinária, desenvolvida a partir da China, mas que tem um brasileiro na ponta desse invento magnífico.
Falo aqui de um avanço tecnológico que passa a permitir que pacientes paraplégicos recuperem parte dos movimentos das pernas, voltem a andar autonomamente e apresentem sinais de reversão da atrofia cerebral. O estudo foi conduzido no Hospital Xuanwu, da Capital Medical University, em Pequim, na China, em colaboração com o Projeto Andar de Novo.
E um aspecto excepcional desse grande anúncio é que foi o brasileiro Miguel Nicolelis, professor e neurocientista renomado, sob a denominação Walk Again Neurorehabilitation Protocol, quem liderou esses estudos.
O protocolo do estudo combina captura de sinais cerebrais por sensores externos não invasivos, simulações de realidade virtual e marcha robótica assistida. Foram avaliadas 19 pessoas com paraplegia completa (classificação ASIA A), todas com lesões medulares. Elas foram divididas em dois grupos, um recebendo apenas fisioterapia convencional e outro participando do treinamento completo com o protocolo WANR durante nove meses.
Em cinco meses de tratamento, os pesquisadores observaram os primeiros sinais de recuperação no grupo experimental, e ao final do etudo 50% dos participantes haviam migrado de um estado de paraplegia completa para um de paraplegia parcial, recuperando os movimentos voluntários das pernas, e em alguns casos, a capacidade de caminhar por seus próprios meios.
Além de permitir que pessoas paraplégicas possam voltar a andar, esse estudo liderado pelo professor Miguel Nicolelis trás outras revelações significativas e inéditas, como, por exemplo, a capacidade que o cérebro tem de se recperar. Por muito tempo, conforme diz o professor Nicolelis, acreditou-se que o cérebro perderia progressivamente sua capacidade de reorganização após uma grave lesão. "E o que estamos vendo agora é justamente o contrário: sob os estímulos certos, o cérebro humano é capaz de se recuperar funcionalmente, usando círcuitos neurais alternativos, ou mesmo frecuperando alguns dos que foram afetados pela lesão medular original", explica NIcolelis.
Os resultados desse estudo abrem novas perspectivas para o tratamento de pessoas com lesões medulares crônicas e sugerem que as interfaces cérebro-máquina, combinadas com ambientes virtuais imersivos e robótica, podem também ser aplicados futuramente em pacientes portadores de doenças neurodegenerativas, ou até mesmo para retardar o envelhecimento natural do cérebro.
Miguel Nicolelis, o brasileiro que lidera esse revolucionário estudo, é referência mundial em neurociência, conhecido por desenvolver tecnologias que permitem restaurar movimentos em pessoas com paralisias, pioneiro no mundo em interfaces cérebro-máquina. Foi sua a criação , por exemplo, do famoso exoesqueleto controlado pelo cérebro, apresentado durante a Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil.
O estudo desenvolvido em parceria com cientistas chineses é de fato uma enorme esperança para pessoas com paralisias, e é, também, motivo de orgulho para todos nós, por ter esse ilustre brasileiro no seu comando.