O Brasil está diante de uma enorme oportunidade, realmente de grandeza histórica, de transformar suas abundantes reservas de minerais críticos, estratégicos, e de terras raras, em um parque industrial de alto valor, com poder de mudar radicalmente o perfil de sua exploração mineral e obter vantagens econômicas extraordinárias.
Isso está sendo levado a expoente máximo, não apenas pela comprovação de que o país detém reservas invejáveis desses minerais, mas igualmente pela constatação de que a transição energética e a reconfiguração geopolítica entre grandes nações, criaram pela primeira vez, de maneira elevada, um ambiente em que países detentores dessas reservas minerais passaram a exercer poder real de barganha sobre as cadeias globais, favorecendo-se de maneira única nas negociações comerciais.
Além do diagnóstico obtido de mapeamento feito pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e confirmado por levantamentos realizados por institutos internacionais, de que o Brasil é dono de uma das maiores reservas desses minerais disputados em todo o mundo, passaram a ter grande influência, pelo fato de que a geopolítica mundial está mudando de direção, com a avanço das novas tecnologias passando ao domínio de China, Japão e de alguns países da Europa, com os Estados Unidos sofrendo abalo nessa competição econômica e política.
Olhando para a realidade que hoje impulsiona o desenvolvimento industrial baseado em modernas tecnologias, o Brasil identifica caminhos e desafios e parece disposto a se a inserir nas cadeias produtivas voltadas para a produção de veículos elétricos e híbridos, energias renováveis, a exemplo de solar fotovoltaica e eólica, motores, baterias e materiais avançados para a construção civil, aos quais temos todas as respostas, pela oferta abundante de minerais estratégicos e críticos essenciais, como o nióbio, lítio e grafite, além de terras raras.
Mas, diante de todas essas vantagens, uma constatação: o Brasil tem pouca participação nas etapas industriais que concentram maior valor agregado, onde ficam os maiores ganhos econômicos e tecnológicos. A conclusão é de que tem pouco efeito positivo possuir grandes reservas, se não temos a capacidade industrial de beneficiar esses minerais e, assim, aumentar lucros.
E daí, sabendo que minerais críticos e minerais estratégicos são insumos indispensáveis e cada vez mais requisitados nas modernas cadeias de produção industrial, na transição energética, na produção de baterias, carros elétricos, turbinas eólicas, painéis solares, e mantém importância estratégica de defesa e soberania dos países, fornecendo os insumos básicos para radares, mísseis, caças e supercomputadores, o Brasil quer avançar na tarefa de fazer o melhor aproveitamento das suas riquezas.
Atualmente, somente uma empresa atua no Brasil, mesmo assim continua no início da cadeia. Possui jazidas, extrai e concentra o minério, mas ainda exporta esse material em estágio bruto. E é na etapa seguinte que mora o segredo. É ela que envolve separar e refinar o carbonato misto, por exemplo, para se chegar aos óxidos individuais (estes, sim, de maior valor agregado), e é esse principal gargalo industrial que o Brasil quer derrubar, ganhando autonomia.
Hoje, as etapas de produção de ligas específicas são totalmente dominadas por China, Japão e países europeus. São essas fases intermediárias que garantem acesso à produção de ímãs permanentes, que é o produto final de alto valor para motores elétricos, geradores eólicos e eletrônicos avançados.
O Governo brasileiro quer avançar nesse caminho e já prepara o terreno. O Ministério do Desenvolvimento já avalia instalar uma planta de separação química, etapa que transforma o carbonato misto em óxidos de elevado valor comercial. Embora sendo uma iniciativa bastante cara, que envolve investimentos de cerca de US$ 500 milhões, além de ser tecnicamente complexa, requerendo mão -de -mão especializada, a certeza que se tem é de que vale a pena esse custo, diante das imensas oportunidades que daí vão surgir e do fato de que o país se incorpora de uma vez a esse mundo econômico, de exploração industrial das suas ricas reservas minerais, algo sem retorno.
Nessa cadeia que trata de carbonato misto, lítio, grafite e outros elementos de potencial elevado para novas tecnologias industriais, calcula-se que até 2030, em apenas cinco anos, portanto, o Brasil poderá gerar até 50 mil novos empregos especializados diretos, de valores salariais diferenciados, e reduzir nesse mesmo período até 40% da dependência de importação de componentes de veículos elétricos e híbridos. E a contribuição, com esse estágio industrial de aproveitamento dos minerais, terá significado exponencial na transição energética, fazendo o país assumir uma nova cultura de produção fundada em altas tecnologias.