Dados publicados pela Bloomberg Línea revelaram que a Embraer tem ampliado, nos últimos meses, de forma estratégica, sua carteira de encomendas de aeronaves, não apenas em volume, mas também na diversidade de clientes. A transformação, segundo analistas, deve impulsionar ainda mais o desempenho das ações da companhia, que já acumulam alta de cerca de 360% nos últimos dois anos, além de abrir espaço para novos contratos.
Ao fim do segundo trimestre, a fabricante brasileira (EMBR3) registrou uma carteira de pedidos de US$ 29,7 bilhões, o maior patamar de sua história. Na aviação comercial, o backlog chegou a US$ 13,1 bilhões, o maior em oito anos. Já o segmento de defesa e segurança somou US$ 4,3 bilhões.
No último dia 22 de setembro, a Embraer anunciou um novo contrato com a Latam Airlines (LTM), que prevê até 74 aeronaves, sendo 24 pedidos firmes e 50 opções adicionais de compra.
Negociações de longa data
De acordo com o executivo do setor aéreo Dany Oliveira, a negociação entre Embraer e o grupo controlador chileno da Latam vinha sendo conduzida há vários anos. “A decisão sobre a compra e a composição da frota é um processo estratégico complexo, influenciado por fatores como custos, financiamento, condições de mercado, eficiência operacional, tecnologia e sustentabilidade”, explicou Oliveira.
A Latam informou que a nova família E195-E2 será incorporada à frota atual, composta por 362 aeronaves, 283 modelos Airbus narrow-bodies, três Airbus wide-bodies em leasing temporário, 56 Boeing wide-bodies e 20 cargueiros da mesma fabricante. Os E195-E2 da Embraer competem diretamente com os A220 e A319 da Airbus e os 737-700 MAX da Boeing, com capacidade para até 146 passageiros em classe única (136 na Azul e 132 na KLM).
Cenário de escassez e diversificação
A escolha empresa ocorre em um momento em que a cadeia global de produção aeronáutica ainda enfrenta disrupções decorrentes da guerra na Ucrânia, com escassez de insumos e atrasos nas entregas. Nesse contexto, a Latam buscava diversificar fornecedores para reduzir riscos operacionais.
Analistas do Santander (SANB11) destacaram que a compra deve permitir à companhia aérea ampliar a oferta de assentos, apesar dos desafios logísticos. “Essa aquisição pode ter sido essencial para expandir a capacidade de voos de curta distância, tanto domésticos quanto regionais”, apontaram em relatório.
Contudo, o banco pondera que a operação pode elevar custos, já que os novos jatos exigirão pilotos, tripulantes e manutenção especializados, além de estruturas específicas. Uma frota padronizada, lembram os analistas, costuma reduzir custos operacionais e simplificar a logística de manutenção.
Perspectivas e novos mercados
Desde a pandemia, a Embraer vem registrando forte recuperação em suas carteiras de pedidos, e especialistas acreditam que outras companhias aéreas podem seguir o mesmo caminho, optando por jatos regionais e de menor porte.
O relatório do Santander também ressalta que a Latam será a primeira operadora do modelo E2 em um país andino, o que representa um novo marco comercial para a fabricante brasileira e contribui para diluir riscos de produção até 2026. O movimento é considerado relevante diante de desafios como problemas nos motores dos jatos E1 e o processo de recuperação judicial da Azul (AZUL4), único operador brasileiro da família E-Jets.
Defesa e segurança em alta
O analista Arbetman destacou ainda o desempenho expressivo da Embraer no segmento de defesa, que tem conquistado novos mercados, especialmente entre países da OTAN.
“Nos últimos anos, a carteira de defesa tem sido um sucesso, com abertura de mercados estratégicos e diversificação de clientes”, afirmou.
Entre os contratos recentes estão as cinco aeronaves A-29 Super Tucano adquiridas pela Força Aérea Uruguaia, quatro unidades C-390 Millennium vendidas à Suécia, e três aeronaves do mesmo modelo para a Lituânia, além de quatro Super Tucano negociadas com o Panamá.