Escrito por Eliaquim de Paula
O humorista e apresentador João Cláudio Moreno foi o convidado do programa Jogo do Poder, da Rede Meio Norte, nesta segunda-feira (20), em uma edição especial dedicada ao Mês do Piauí, quando o estado celebra 203 anos de emancipação política. Durante a conversa, ele falou sobre piauiensidade, cultura popular e as transformações que o Piauí vem atravessando ao longo do tempo, fazendo um paralelo entre o passado e o presente.
Com seu estilo irreverente e reflexivo, João Cláudio destacou as mudanças sociais, tecnológicas e culturais que moldaram o Piauí contemporâneo, ressaltando avanços, contradições e desafios que acompanham o processo de modernização.
O impacto da tecnologia e a pressa dos tempos modernos
Durante a entrevista, João Cláudio comentou sobre como a velocidade das transformações tecnológicas impactou não apenas o modo de vida das pessoas, mas também a forma como as decisõespolíticas, sociais e pessoais — são tomadas.
“As mudanças são enormes, porque as mudanças, elas acontecem diariamente, né? O processo tecnológico, a internet. Antigamente uma coisa demorava muito. Você se comunicava com carta, inseria carta. O jornal tinha que ser diagramado, passava a noite inteira. Hoje com o computador você faz, revisa, monta as... Tudo é muito apressado. E sendo tudo muito apressado, passou-se a ser também tudo muito precipitado”, afirmou.
Para ele, essa aceleração traz consequências profundas: decisões são tomadas “no impulso da velocidade”, sem tempo para reflexão ou ponderação, algo que, segundo o humorista, contrasta com instituições mais lentas, como a Igreja, cujos processos “demoram séculos” para se consolidar.
Avanços e desafios sociais no Piauí
João Cláudio também refletiu sobre as mudanças sociais que ocorreram no Piauí e no Brasil, reconhecendo conquistas, mas chamando atenção para problemas persistentes como a violência urbana, a desigualdade social e a degradação ambiental.
“O Piauí de hoje é um Piauí que mudou em muitos aspectos, positivos e negativos, como o Brasil. Hoje nós temos uma grande violência urbana, um grande perigo para o meio ambiente e a degradação ambiental, que é uma coisa verdadeira e que muita gente nega”, disse.
O artista ainda fez críticas à falta de ações efetivas em nível global:
“As conferências de cúpula são caras, são gastos milhões, decidem as coisas e quando a gente vai olhar dez, vinte anos depois, veja o que aconteceu depois da Eco 92? Nada.”
Apesar disso, João Cláudio reconhece que houve avanços na inclusão social, embora ressalte que o processo ainda carece de uma base educacional sólida.
A autoestima do piauiense e a força da identidade cultural
Um dos pontos mais emocionantes da entrevista foi quando João Cláudio falou sobre a autoestima do povo piauiense, tema recorrente em suas obras e reflexões. Para ele, a valorização da cultura local e o reconhecimento nacional têm ajudado a reconstruir o orgulho de ser piauiense.
“A autoestima do piauiense aumentou, melhorou. Naquele tempo ela era muito mínima, insuficiente. Nós tínhamos razão de protestar contra as piadas com o Piauí, porque o Piauí não era visível. Nós estamos soterrados de 300 anos de bullying, 300 anos de humilhação pública, que não forjou em nós uma boa autoestima.”
Ele ressaltou ainda que a história do Piauí ainda está em construção, com lacunas que precisam ser preenchidas para que a população compreenda e valorize sua trajetória.
“Ainda não foi escrita a nossa bibliografia precária, ainda não foi escrita a história épica da colonização do Piauí.”
Um olhar crítico e esperançoso
Encerrando a entrevista, João Cláudio Moreno reforçou sua visão crítica, mas também otimista, sobre o futuro do estado. Para ele, o Piauí vive um momento de afirmação cultural, com mais espaços para o debate, a arte e a educação, mas ainda precisa avançar na construção de um desenvolvimento que una progresso econômico e consciência social.
Com seu humor inteligente e profundo, o artista deixou uma mensagem de reflexão sobre a importância de preservar a identidade cultural, valorizar a história e olhar para o futuro com responsabilidade e esperança, temas que definem não apenas o Mês do Piauí, mas o próprio espírito do povo piauiense.