Câmara torna público celular de uso pessoal de Michel Temer

O registro estava num aparelho iPhone de Geddel Vieira Lima

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A Câmara dos Deputados tornou público o número de um telefone celular de uso pessoal do presidente da República, Michel Temer. O registro estava num aparelho iPhone do ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência Geddel Vieira Lima, apreendido pela Polícia Federal (PF) numa das operações derivadas da Lava-Jato.

O conteúdo extraído do celular de Geddel, centenas de outros documentos e vídeos de delatores – entre eles o doleiro Lúcio Funaro – foram compartilhados com a Câmara, que vai analisar a segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente. Todo o material foi disponibilizado no site da Casa e pode ser acessado por qualquer cidadão.

Um jornalista ligou no número de Temer na tarde desta segunda-feira e falou com o presidente.

Primeiro, o repórter questionou se o celular era do Palácio do Planalto. O presidente disfarçou e disse que não. Depois, foi detalhado que o número estava na agenda de Geddel como sendo do presidente da República. O ex-ministro está preso preventivamente no Presídio da Papuda, em razão das suspeitas de que manteve R$ 51 milhões num "bunker" em Salvador, também apreendidos pela PF. Temer pediu:

— Liga aqui para o gabinete do presidente e fala com a dona Nara (de Deus, chefe de gabinete de Temer).

— Eu estou falando com o presidente, não estou? — questionou o repórter.

— Está, perfeitamente — respondeu.

Temer disse não ver problema em seu número de celular pessoal estar disponível no site da Câmara, junto com o material relacionado à segunda denúncia da PGR. Os documentos das investigações foram compartilhados com a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, que fará a primeira análise em relação à denúncia.

— Se você ligar para... quem... Se você ligar para qualquer ministro ou qualquer ex-ministro, ou qualquer deputado, vai encontrar esse número também. Acho que centenas de pessoas têm esse número. (...) Aliás, umas das críticas que eu recebo é que eu atendo o meu celular — disse o presidente.

No mesmo material compartilhado com a Câmara, estão registros de e-mails enviados por Geddel a partir do iPhone que foi apreendido. O ex-ministro tentou por quatro vezes, em outubro de 2016, enviar e-mail ao endereço (...)@gmail.com. Geddel era ministro da Secretaria de Governo e despachava no Palácio do Planalto. Temer já era presidente efetivo há um mês e meio. Deveriam usar, portanto, e-mails institucionais.

O destinatário escrito pelo ex-ministro não existe. O repórter questionou o presidente se ele faz uso do domínio @gmail.com. Esta conta de e-mail existe e está em uso.

— O senhor usa essa conta ainda?

— Conta?

— É, uma conta particular no gmail.

— Não, conta não. Eu tenho o gmail. Gmail, não, como é que se chama isso? E-mail.

— Ele enviou para (...)@gmail.com?

— É possível. É possível.

— O senhor usa essa conta?

— Eu não uso. Normalmente vem para minha secretária. Agora, acho que é isso mesmo. Meu e-mail é esse. Deve ser exatamente esse. VPR, do tempo da vice.

Depois, o repórter questionou o presidente sobre a carta enviada por Temer aos deputados federais nesta segunda-feira, em que critica a segunda denúncia da PGR contra ele, por organização criminosa e obstrução de Justiça. Após a resposta, a ligação foi encerrada.

A divulgação dos vídeos da delação de Funaro no site da Câmara já causou uma crise entre o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o advogado de Temer, Eduardo Carnelós. Após Carnelós divulgar uma nota em que manteve críticas à divulgação dos vídeos, Maia disse que a nota não elimina o erro por completo. Ele afirmou que os servidores da Casa devem processar Carnelós. E chamou o advogado de “incompetente” e “irresponsável”. O advogado afirmou que não sabia que os vídeos haviam sido publicados no site da Câmara.

A Secretaria de Imprensa da Presidência afirma que o e-mail privado de Temer segue ativo, mas é pouco utilizado. Segundo a secretaria, é a chefia de gabinete do presidente que faz uso do e-mail, ainda mantido porque a conta vem desde a Vice-Presidência e porque "o sistema do Palácio do Planalto nem sempre é o mais eficiente".

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