Apesar de ao longo dos anos o Brasil ter se mantido praticamente estável nos principais rankings de corrupção da Transparência Internacional, a ONG avalia que o país está em um caminho promissor para combatê-la.
"Estamos muito otimistas, mas também cautelosos, já que o Brasil avançou no combate à corrupção, mas ainda são pequenos passos", afirmou Alexandro Salas, diretor para Américas da Transparência Internacional.
Dois grandes avanços no Brasil são responsáveis pela visão promissora de Salas. O primeiro fator citado por ele é uma mudança na política e na legislação, cujos melhores exemplos são as leis da Ficha Limpa e do Acesso à Informação.
"Há algo incrível nas duas: uma (a da Ficha Limpa), por ter sido criada por uma iniciativa da sociedade, que inclusive já teve impacto nesta última eleição, e a outra, por equiparar o Brasil aos seus vizinhos, que já tinham uma legislação mais forte em relação ao acesso a dados", afirma Salas.
Mensalão e Fujimori
O segundo esforço citado pelo especialista diz respeito à vontade política, algo crucial no combate à impunidade. Segundo Salas, no Brasil e em outros países da América Latina, os ricos e poderosos raramente pagam por seus crimes. Mas ele avalia que o julgamento do mensalão vem passando uma mensagem de que as coisas podem estar mudando.
"Normalmente, o que se vê nesses países é apenas um esforço para melhorar as leis, como no caso do México, mas os ricos seguem sem ir para cadeia", diz o pesquisador. "É importante ver punições, daí a importância do mensalão ou de experiências em países como o Peru, que puniu efetivamente o ex-presidente Alberto Fujimori."
É por o Brasil estar nesse momento-chave que Salas considera extremamente importante o país ser a sede nesta semana da 15ª Conferência Internacional Anticorrupção (IACC), um evento bienal organizado pela própria Transparência Internacional e por sua representante no Brasil, a ONG Amarribo, e pela Controladoria-Geral da União (CGU).
Para Salas, a conferência vai mostrar o quanto o Brasil está sendo observado pelo mundo, colocando mais pressão no país e servindo de incentivo para intensificar o combate à corrupção.
Cautela
"Quando um país começa a ter uma economia mais sólida, é mais fácil ver um cidadão comum perdoando atos corruptos, porque ele não faz um vínculo direito de como a corrupção o afeta", diz Salas. "Se agora ele tem um bom trabalho, um carro e se o ministro rouba, ele fica irritado, claro, mas acha que isso não o atinge diretamente."
No ranking de Percepção da Corrupção da ONG em 2011, o Brasil ocupou a 73ª posição, entre 183 países. Já no que lista o grau de proprinas pagas, o país ficou no 14º lugar - foram 28 países analisados.
O fato de o Brasil ocupar posições intermediárias nos rankings de corrupção e propina reflete bem, segundo Salas, o que está acontecendo no país: há muitos casos de corrupção, mas também muitas ações para combatê-la.
De qualquer jeito, o Brasil ainda tem muito o que avançar no índice da corrupção, para se aproximar dos países que ocupam os primeiros lugares, como Nova Zelândia, Dinamarca e Finlândia (empatados) e Suécia, e se afastar de seus "vizinhos" no ranking, como Tunísia e China.
Combater a corrupção no país significa reduzir um custo estimado entre 1,38% a 2,3% do PIB, isto é, de R$ 50,8 bilhões a R$ 84,5 bilhões por ano, de acordo com um estudo feito pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) com base no PIB de 2010.
O menor valor daria para arcar com o custo anual de 24,5 milhões de alunos das séries iniciais do ensino fundamental ou comprar 160 milhões de cestas básicas ou ainda construir 918 mil casas populares.