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Brasil articula apoio para destravar plano global contra combustíveis fósseis

Roadmap citado por Lula ficou fora da agenda oficial, mas país costura alianças para recolocar proposta que prevê grupo de trabalho até 2027

Brasil articula apoio para destravar plano global contra combustíveis fósseis | Foto: Reprodução
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O governo brasileiro intensificou, nos bastidores da COP30, as articulações para que o roadmap global de transição para longe dos combustíveis fósseis entre oficialmente na agenda da conferência. A proposta, citada três vezes pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no discurso de abertura, havia ficado de fora do programa formal, mas já reúne apoio de dezenas de países e pode avançar nos próximos dias.

O que está em negociação

A estratégia do Brasil é que outro país lidere a apresentação do plano, enquanto a diplomacia brasileira atua no suporte político. Segundo apurado por g1 e TV Globo, a Colômbia deve assumir esse protagonismo e divulgar a iniciativa na próxima semana. O país sul-americano ganhou relevância no debate climático após anunciar a proibição da exploração de petróleo em sua área amazônica, medida vista como exemplo de compromisso socioambiental vindo de uma nação em desenvolvimento.

Informações da agência AFP indicam que cerca de 60 países já sinalizaram apoio ao roadmap, incluindo Quênia, Alemanha e a própria Colômbia. O principal obstáculo, porém, permanece entre as nações fortemente dependentes do petróleo, como a Arábia Saudita, que defendem mais tempo e condições diferenciadas para países cujas economias são ancoradas nesse setor.

Como o plano funcionaria

A proposta brasileira não visa definir agora “como” e “quando” será o abandono dos combustíveis fósseis, algo que travaria as negociações. O objetivo é criar um grupo de trabalho internacional com prazo de dois anos para apresentar metas e um roteiro concreto na COP32, em 2027.

O roadmap poderá ser incluído no texto final da COP30, o que exigiria consenso de todos os países, ou como uma “decisão de capa” apresentada pela presidência da Conferência, permitindo abordar temas que não passaram pelo processo formal de negociação.

Sinalizações e apoios

Um dos indícios de avanço na articulação ocorreu em um evento paralelo nesta terça-feira (11), com participações da ministra Marina Silva e de representantes de países aliados, como Reino Unido, França e Colômbia. O economista Nicholas Stern, referência mundial em estudos sobre economia de baixo carbono, apresentou pesquisas e argumentos técnicos que sustentam a necessidade de transição energética acelerada.

Durante o encontro, a representante do Reino Unido reforçou o apoio à ministra: “Estamos totalmente com você”, afirmou.

Para especialistas, mesmo sem metas definidas, o reconhecimento formal da necessidade de um plano já seria um marco. Stela Herschmann destaca que isso criaria uma obrigação internacional de discutir prazos e formatos concretos: “Seria um avanço muito grande e um marco de sucesso da COP”.

O pesquisador Paulo Artaxo, membro do IPCC, reforça a urgência: a COP30 existe justamente em razão dos impactos da queima de combustíveis fósseis, responsável por 90% do aquecimento global

Ele afirma que “desenhar um mapa do caminho pra que a humanidade se livre dos combustíveis fósseis é a melhor coisa e a coisa mais importante que a COP30 pode realizar”.

Por que isso importa agora

Na COP28, realizada em Dubai no fim de 2023, os países concordaram em “transitar para longe dos combustíveis fósseis”, mas não definiram mecanismos, prazos ou responsabilidades. Esse vazio técnico permanece desde então e é justamente o que o roadmap pretende preencher.

Apesar da sinalização pública de Lula, o tema ainda não entrou oficialmente na agenda da COP30, assim como outras quatro pautas excluídas inicialmente, entre elas o debate sobre financiamento climático. Nos bastidores, porém, diplomatas afirmam que a costura política está em curso, com chances reais de inclusão nos próximos dias.

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