O tema era o anivers?rio de 155 anos de Teresina, mas o assunto da sess?o solene realizada nesta ter?a-feira (21) na C?mara dos Deputados foi mesmo o Piau?. Ou melhor, a pol?mica declara??o do presidente da Philips para a Am?rica Latina, Paulo Zottolo, que disse que ?se o Piau? deixar de existir ningu?m vai ficar chateado?.
Deputados do Piau? e de outros estados do Nordeste foram ? tribuna e transformaram a sess?o de homenagem ? capital em um ato de desagravo ao estado. No ?ltimo dia 17, a empresa divulgou nota na qual Zotollo se desculpa.
O governador do Piau?, Wellington Dias (PT), encerrou a sess?o classificando a frase de Zottolo como agressiva e anunciando que ?acabou-se o tempo em que se tratava o Piau? com deboche?. ?N?o queremos nada mais, nada menos que nosso povo seja tratado como povo brasileiro?, disse.
Dias lembrou o pedido de desculpas feito pelo presidente da Philips, mas afirmou que o epis?dio deve servir como ?reflex?o?. ?? preciso que o Brasil, no s?culo 21, possa caminhar para saber a import?ncia de todas as unidades da federa??o?.
Cordel
O ?ato de desagravo? ao Piau? na C?mara teve seus momentos de humor. Paulo Rubem Santiago, do PT de Pernambuco, improvisou um versinho de cordel para se dirigir ao deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), que solicitou a sess?o solene.
?Meu amigo Nazareno, eu venho de Pernambuco, mas sexta-feira ouvi as palavras de um maluco. A not?cia me espantou pela clara grosseria, um cidad?o educado, coisa assim jamais diria?, recitou.
Cleber Verde, do PRB do Maranh?o, arriscou Martin Luther King. ?I have a dream. Eu tamb?m tenho um sonho: o de ver o Maranh?o, o Piau? e o Nordeste reduzirem suas desigualdades sociais?, disse, em um discurso sem refer?ncia direta ? declara??o de Zottolo.
Caju?na
Chico Alencar (PSOL-RJ), come?ou doce, com versos de ?Caju?na?, m?sica de Caetano Veloso famosa no estado. ?O Piau? ? um estado sem arrog?ncia, sem pretens?o. ? um estado que nos faz indagar: ?existirmos, a que ser? que se destina??.
Mas n?o deixou de alfinetar. ?Certas pessoas n?o fariam a menor falta no mundo exceto para seus familiares e amigos porque n?o t?m no??o da dimens?o humana. N?o foi um descuido do sr. Zottolo. Foi uma frase proferida l? do fundo de sua vis?o preconceituosa. Fica o nosso rep?dio e o pedido para que toda a transcri??o dessa sess?o seja enviada ao presidente da Philips para ele saber que essa Casa produziu uma sess?o de afirma??o do povo piauiense?, disse, encerrando em tom inflamado.
Frank Aguiar (PTB-SP), nascido no Piau?, disse que o momento "era muito importante para falar de algu?m que n?o sabe o que estava falando" e terminou cantando "Caju?na".
Nordeste
Muitos foram al?m e disseram ver na frase de Zottolo uma ofensa a toda regi?o. ?Esse epis?dio das declara?es do sr. Zottolo n?o se constitui uma novidade. J? ouvimos isso muitas vezes, n?o s? em rela??o ao Piau?, mas em rela??o ao Nordeste e aos mais pobres?, disse o deputado Osmar J?nior (PC do B-PI).
O piauiense Chico Lopes (PC do B-CE) avan?ou. ?Esse preconceito desse rapaz da Philips, vamos ser mais honestos, ? uma onda de preconceito contra o Nordeste. Temos um presidente nordestino (...) O preconceito dele n?o pode ser visto como uma coisa ? toa. S?o as elites que n?o aceitam que n?s do Nordeste possamos governar, ser honestos e amar o Brasil como qualquer pessoa que nas?a nesse pa?s?.
Mas tamb?m houve quem buscasse colocar panos quentes. Vicentinho (PT-SP) come?ou o discurso lembrando que nasceu no Rio Grande do Norte. ?A frase dita por este homem pobre de esp?rito n?o representa o pensamento de S?o Paulo, que ? um estado acolhedor e sabe que depende do Brasil todo, especialmente dos homens do Nordeste?, contemporizou.