Alvo de punição, Embrapa pede socorro nos seus 50 anos, por José Osmando

A importância da Embrapa para o agronegócio brasileiro e os desafios enfrentados diante da redução de investimentos públicos.

Embrapa completa 50 anos e enfrenta desafios | div
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Por José Osmando de Araújo

 A Assembleia Legislativa do Piauí realizou, neste dia 10 de Maio, uma sessão solene para homenagear a Embrapa pela celebração dos seus 50 anos de fundação. Um reconhecimento plenamente justo e merecido, pois sabem os parlamentares piauienses o quanto essa grande empresa pública brasileira tem feito ao longo de sua consagrada história para o engrandecimento do agronegócio, com especial relevância para a Embrapa Meio Norte.

Se o Brasil é hoje uma potência agrícola mundial, conseguindo sustentabilidade em regiões conhecidas por biomas de baixa fertilidade de solo, como os cerrados, por exemplo, deve-se essencialmente à gigantesca capacidade da Embrapa de desenvolver um trabalho científico incomparável, voltado ao campo, colocando suas pesquisas avançadas a serviço da agricultura. 

TRANSFORMAÇÃO DOS CERRADOS

Foi sobretudo pelas tecnologias desenvolvidas por seus centros de pesquisa, permitindo a correção de solos ácidos e pobres de nutrientes, que se tornou possível transformar os Cerrados piauienses, assim como o de outros regiões do país, especialmente do centro-oeste, na eficiência e na importância agrícola que hoje são reconhecidas no mundo e fazem o país ter uma economia pungente nesse grandioso segmento de exportação. 

POSIÇÃO DE EXPORTADOR

É fundamental observar e compreender que foi graças à ocupação dos Cerrados que se tornou possível levar o Brasil da condição de importador para a posição de exportador, causando um estímulo espetacular, que impulsionou grandes negócios e pôs o país como maior exportador de alimentos do mundo. As safras agrícolas do Brasil deram um salto de 20 anos e os valores econômicos obtidos com elas equivalem hoje ao PIB da Argentina. 

Em duas décadas, a safra de grãos brasileira subiu de 120,2 milhões de toneladas para 310,6 milhões, um avanço de 258%. Enquanto isso, a área plantada passou de 43,7 para 76,5 milhões de toneladas, crescendo 76,5%. Isso mostra que a produção cresceu três vezes mais do que a área ocupada pelas lavouras. Está aí uma demonstração clara do papel desenvolvido pela Embrapa, com seu magnífico trabalho científico, que foi bastante bem recebido e aplicado pelos empresários do agronegócio. Foi daí que surgiram grandes empreendimentos no terreno dos agronegócios.

TEMPOS BICUDOS

Se os parlamentares estaduais do Piauí tiveram a consciência de reconhecer o papel da Embrapa nesses seus 50 anos de trabalho e desenvolvimento científico, pouco se viu, pelo menos na mídia tradicional do sul/sudeste, quaisquer manifestações significativas por parte do mundo político, governamental, ou até mesmo empresarial, em celebração a esse notável acontecimento. Os tempos bicudos que o Brasil vive, com uma politização às avessas da realidade nacional, muitos parecem dar as costas aos fatos e suas referências históricas. 

Um desses gestos grotescos de incivilidade e de desconhecimento aos governos brasileiros que, nessas décadas todas, fizeram a Embrapa conquistar a posição que alcançou, aconteceu recentemente na Agrishow – a maior feira de agricultura brasileira, quando dirigentes de setores do agronegócio cancelaram convite para que o Ministro da Agricultura do Brasil comparecesse à abertura do evento. Uma atitude meramente político/ideológica posta em prática por pessoas que, simplesmente, não gostam dos atuais governantes do país.

REDUÇÃO DE INVESTIMENTOS

Esquecem, contudo, esses beneficiários do trabalho da Embrapa, que os investimentos públicos na empresa, durante o governo passado, diminuíram de modo acentuado, ano a ano. Vários programas de melhoramento nos cerrados, como o do trigo, que há 10 anos sustentavam uma aplicação de cerca de R$ bilhão por ano, tiveram, em 2021, sob Bolsonaro, proposta de apenas R$ 171,1 milhões, uma queda espantosa, nunca antes registrada. Os valores destinados só a pesquisas pela Embrapa caíram mais de R$ 19,7 milhões, 29% a menos do que no mesmo período anterior.

Em 2022, a Embrapa teve seu orçamento discricionário aprovado em R$ 242.878,320 milhões, 24% inferior ao necessário para seu custeio geral, que era de R$ 320 milhões. Com seus 1.121 projetos de pesquisa em execução, a empresa, em 2021, apresentou um lucro social de R$ 61,85 bilhões, demonstrando que o retorno anual superou em 17 vezes o valor investido pelo governo.

A Embrapa chega, assim, aos seus 50 anos de atuação construtora, bastante combalida, vitimada por descaso e cortes orçamentários nunca vistos em toda sua história, com importantes projetos de pesquisas prejudicados, necessitando urgentemente de uma recomposição dos valores suprimidos pelo governo passado. É triste comprovar que uma empresa do porte da Embrapa tenha passado por visível perseguição, caracterizada nos cortes orçamentários sofridos, e na pouca importância dada pelos governantes recentes à excelência científica que alcançou. Mas é tempo de se fazer a reparação merecida.

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