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“30% + 30% + 30%”: os bastidores do esquema de emendas ligado à assessora de Valéria Bolsonaro

Nas conversas, Amanda aparece negociando valores e pedindo R$ 100 mil de volta de uma emenda de R$ 300 mil destinada a uma prefeitura do interior paulista.

Valeria Bolsonaro | Foto: Divulgação/Assessoria Valeria Bolsonaro
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Áudios de WhatsApp obtidos pelo Metrópoles expõem detalhes de um suposto esquema de devolução de parte de emendas parlamentares, articulado por Amanda Servidoni, filiada ao PL em Rio Claro (SP). Nas conversas, Amanda aparece negociando valores e pedindo R$ 100 mil de volta de uma emenda de R$ 300 mil destinada a uma prefeitura do interior paulista.

“Ele vai gastar 100k com a pista. E nós estamos dando 300. Desses 300 eu quero pelo menos uns 100. Não quero 10%, filho”, diz Amanda em um dos áudios.

A filiada ao PL se apresenta como assessora da deputada estadual licenciada Valéria Bolsonaro (PL) — atual secretária de Políticas para a Mulher do governo Tarcísio de Freitas. Apesar da proximidade, Amanda não possui cargo oficial na pasta. Ela foi chefe de gabinete do vice-prefeito de Rio Claro e preside o projeto social “Mulheres pela Fé”, apadrinhado por Valéria. Coincidentemente, a secretária inaugurou recentemente um escritório político no mesmo endereço da entidade.

Segundo interlocutores, Amanda atuava como intermediária de emendas entre prefeituras e parlamentares, negociando valores acima do percentual “tradicional” de 10%. Nos áudios, ela fala em pedir 30% de devolução e diz que parte do dinheiro seria “para abrir portas” em outras cidades.

“Ele já vai ganhar 100 que vai executar e 100 que vai vir de lambuja. Mas nada certo ele fazer isso para abrir as portas”, afirma em outro trecho.

As conversas citam prefeitos, deputados e articulações políticas, mas sem mencionar nomes diretamente. Questionada, Amanda confirmou a autenticidade dos áudios, mas alegou que se referia a “projetos”, e não a emendas parlamentares.

A Secretaria de Políticas para a Mulher informou que o caso não tem relação com a pasta, reforçando que as emendas são de responsabilidade da Assembleia Legislativa e das prefeituras. O assessor jurídico de Valéria, Eduardo dos Santos, afirmou que Amanda atua como “assessora regional”, mas destacou que a relação entre as duas é apenas política e de amizade. Até o momento, Valéria Bolsonaro não se manifestou publicamente.

O que são as “emendas vendidas”

A venda de emendas parlamentares é uma prática ilegal em que parte dos recursos públicos destinados a obras e projetos municipais é desviada. Isso ocorre por meio de superfaturamento, empresas de fachada ou devoluções diretas em dinheiro.

O modelo ganhou força com as chamadas “emendas Pix”, que transferem os valores diretamente às prefeituras, sem detalhamento obrigatório dos gastos — o que dificulta a fiscalização e aumenta o risco de corrupção.

Investigações recentes da Polícia Federal e do Ministério Público já identificaram redes organizadas em vários estados, desviando milhões de reais de recursos destinados a políticas públicas essenciais.

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