Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores (CACs) treinaram integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) para que aprendessem a manusear e atirar com armas de fogo com alto poder de destruição. O treinamento tinha como objetivo ataques conhecidos como "novo cangaço" ou "domínio de cidades".
O Meio News obteve acesso aos vídeos que mostram o exato momento em que os criminosos são treinados. As imagens mostram quando o investigado Otávio de Magalhães, que tem registro como CAC, explica para dois integrantes do PCC - Elaine Garcia e seu companheiro, Delvane Lacerda (vulgo Pantera) - como usar um fuzil.
VEJA Os VÍDEOs!
Segundo uma investigação da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), os CACs tornaram-se fornecedores de armas e munições para facções criminosas no Brasil, justamente pela facilidade deles adquirirem armamentos.
Em posse dos armamentos e devidamente instruídos, os criminosos usam violência e armamento pesado para fazer roubos a bancos, caixas eletrônicos, carros-fortes e transportadoras de valores, normalmente acompanhados de muita violência e terror social.
GOVERNO DE BOLSONARO FLEXIBILIZOU ACESSO À ARMAS
Em 2019, o governo de Jair Bolsonaro (PL) flexibilizou as regras dos CACs e permitiu que mais pessoas tivessem acesso a armas por meio dessa modalidade.
RESPONSABILIZAÇÃO DOS ACUSADOS
Otávio Magalhães, que apareceu no vídeo ensinando os membros do PCC, responde por porte irregular de arma de uso restrito e tinha a função de comprar e vender de maneira ilegal armamento e munição para a facção criminosa. Quem é CAC pode comprar armas e munições legalmente, mas não revendê-las.
Na casa de Otávio Magalhães, os investigadores relatam ter encontrado "verdadeiro arsenal bélico", como dezenas de armas de fogo com e sem registro, milhares de munições, acessórios, pólvora, artefatos explosivos de fabricação caseira e acionador, "objetos comumente empregados na prática de roubos na modalidade “domínio de cidade”.
OPERAÇÃO BAAL
Nessa terça-feira (10), a PF e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, deflagraram a segunda fase da Operação Baal e prenderam três pessoas ligadas a ataques do “novo cangaço”.
Foram presos:
- JAKSON OLIVEIRA SANTOS (Dako): integrante do PCC que permaneceu foragido de 2005 até 2024, quando foi preso em outra investigação feita pelo Gaeco de Campinas (SP). Na ocasião, foram apreendidas armas de fogo, acessórios, munições, roupas camufladas e outros objetos usados na prática de crimes violentos (alvo já estava preso e foi cumprido novo mandado de prisão preventiva na cadeia).
- LAINE SOUZA GARCIA: segundo a investigação, fez o treinamento com o fuzil, e também tinha a função de coordenar o tráfico de drogas, a execução de rivais, e o comércio ilegal de armas de fogo e munição.
- DIOGO ERNESTO NASCIMENTO SANTOS: segundo a investigação, ele foi preso pelo crime de receptação em Rondonópolis (MT). Obteve a liberdade provisória, mas deixou de cumprir as medidas cautelares judiciais e, por isso, teve novo pedido de prisão preventiva aceito. A apuração indica que, além de exercer papel fundamental no núcleo financeiro da organização criminosa, estava ligado inclusive à prática de execuções.
18 pessoas denunciadas
Desde o começo do ano, 18 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público a partir dessa investigação. Na primeira fase da operação, os investigadores prenderam quatro CACs que forneceram armas e munições para o PCC. Esse núcleo da facção financiou pelo menos quatro "domínios de cidade": Criciúma (SC) (2020), Guarapuava (PR) (2022), Araçatuba (SP) (2021) e Confresa (MT) (2023).